sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Tem alguém fedendo aí?

Por Genaldo de Melo

O jornalismo político no Brasil imita a própria política em sua essência. A dinâmica dos fatos sobrepuja os denominadores comuns do jornalismo comum, principalmente no fenômeno recente das redes sociais na internet. No momento o principal fato que vem causando verdadeiro rebuliço, suscitando inclusive opiniões variadas, foi o lançamento do livro do jornalista Amauri Ribeiro Jr. (bastante conhecido da mídia impressa brasileira), “A Privataria Tucana”. Ele já foi colunista de grandes jornais e revistas de renome.
Não é comum no Brasil um livro ser lançado e em menos de 72 horas ter vendido mais de 30 mil exemplares. Isso na linguagem do mercado editorial se configura num best-seller. São raros os casos no mundo da literatura tal fato, e isso suscita naturalmente uma análise mais aprofundada porque as opiniões de jornalistas e blogueiros sérios de todos os matizes ideológicos são variadas. Algumas apaixonadas e outras carregadas de teor explosivo.
Confesso que não li o livro completamente ainda, apenas alguns detalhes e capítulos, porque estou a fazer outras leituras no momento. Mas confesso que vou devorá-lo na primeira oportunidade que tiver, em breve. É uma necessidade natural de quem gosta de jornalismo político ler uma obra dessa natureza, porque é um fenômeno editorial. Ninguém vende tantos livros em tão pouco tempo se não estiver dizendo a verdade, ou plagiando a mesma.
A grande mídia calou. Apenas o jornalismo dos textos pequenos colocou pequenas notas sobre o assunto. Os grandes colunistas do jornalismo da obediência se emudeceram como se mortos estivessem. Nos últimos dias somente vi um colunista baiano falar do tema, mas mesmo assim insinuando que o livro é verdadeiro “cala a boca”, por causa das denúncias contras os ministros do Governo de Dilma. Ou seja, segundo ele o livro foi lançado agora para ocupar as mentes dos jornalistas da obediência. Como leio diariamente esse colunista, mesmo não concordando com as opiniões dele, o sujeito é bom no que faz, e além disso, foi colega de redação de um amigo nosso. Na Rua Djalma Dutra onde morei muitos anos, Jânio Lopo primeiro lia, depois opinava.
Como é mesmo que se pode explicar os fatos do livro de Amauri Ribeiro? Não vejo motivos para incriminá-lo de mentiroso, pois ele sempre foi respeitado e considerado pelos grandes conglomerados midiáticos como grande profissional do jornalismo brasileiro. Aliás, esteve sempre do lado contrário àqueles que hoje coordenam o projeto de poder no Brasil. Ele não é petista.
Vejam só o que está no livro. O primo mais esperto de Serra, um espanhol abrasileirado, teve abatimento de dívida com o Banco do Brasil de 109 vezes, ou seja, devendo R$ 448 milhões foi para irrisórios R$ 4,1 milhões, depois que pegou financiamento em nome das empresas Gremafer Comercial e Aceto Vidros e Cristais Ltda, na agência Rudge em São Bernardo do Campo, em agosto de 1993; depois quase falido, o primo do senhor eterno candidato dos tucanos à Presidência da República, representa a empresa espanhola Iberdrola e vai às compras, monta o consórcio Guaraniana e adquire milagrosamente três grandes estatais de energia elétrica, a Coelba da Bahia, a Corsen do Rio Grande do Norte e a Celpe de Pernambuco. Isso tudo também com R$ 2 bilhôes da Previ (fundo de previdência do Banco do Brasil). Olhe aí, tudo às olhos nus dos tucanos que governavam o Brasil. Será que Amauri Ribeiro está mesmo mentindo para vender livros? Ou será mesmo que estamos a ver a cortina de fumaça querendo esconder de fato que a Privataria existiu?
Quase esqueço de falar da Ilha do Urubu, paraíso dos mais caros da costa baiana, que os carlistas presentearam ao bom rapaz, primo rico do eterno candidato a Presidência da República, que vendeu por apenas R$ 5 milhões a Bella Vista Empreendimentos Imobiliários, controlada pela Dovyalis Participações S.A., presidida pelo especulador belga Philippe Ghislain Mees, deixando Pataxós e Martins à ver navios.
Caros leitores, o que aconteceu mesmo no Brasil com as privatizações financiadas pelo próprio Brasil? Cadê o dinheiro...?






terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mulheres se organizam em Água Fria

Por Genaldo de Melo

Em Água Fria as mulheres componentes do Coletivo de Mulheres Trabalhadoras Rurais conseguiram finalmente institucionalizar sua entidade para lutar pela eliminação das disparidades nas relações de poder entre homens e mulheres.

No último dia 09 de dezembro elas realizaram um encontro para oficializar a criação da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Água Fria, bem como para começar a pensar o trabalho para o primeiro mandato da Diretoria.

A idéia de criar a associação nasceu no I Seminário de Mulheres que foi realizado no município com apoio do Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais, da FETAG-BA, da Igreja local, e principalmente pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço.

O passo seguinte agora das mulheres será a realização de Seminário de Planejamento estratégico para pensar e definir a missão, a visão de futuro, os objetivos estratégicos, bem como as ações de fato para o próximo período com os “pés no chão”.

A atividade teve a participação de toda a nova Diretoria da entidade, foi apoiada pelo STTR de Água Fria, e foi assessorada por Genaldo de Melo, representando a FETAG-BA e a CTB-Bahia.

Fonte: http://sttraguafria.blogspot.com  

O Nordeste é perfeitamente viável

Por Genaldo de Melo

O discurso da desunião entre os chefes de executivos dos Estados nordestinos deve e tem que ser derrubado, quando se trata das disputas por investimentos em processos de desenvolvimento econômico. A disputa não é boa para uma região que do ponto de vista econômico, sempre foi desprezada e relegada o segundo plano como se valor nenhum tivesse para a economia brasileira.

Foi no Nordeste que o Brasil se iniciou como nação, foi também nessas terras que a mão-de-obra para a construção das riquezas nacionais foi estabelecida, bem como para construir os “melhores” Estados brasileiros do ponto de vista econômico. Não procede então o discurso do conflito, mas sim da união e da cooperação, porque o Nordeste tem viabilidade.

As organizações da Sociedade Civil, os partidos políticos independentemente de seus aspectos ideológicos, o Terceiro Setor e as instituições públicas que têm hegemonia na sociedade devem alinha-se aos discursos dos governadores Jacques Wagner, Cid Gomes e Eduardo Campos, respectivamente da Bahia, do Ceará e de Pernambuco. O Nordeste precisa está unido para atrair investimentos e consolidar a região como pólo econômico importante, enfrentando assim o subdesenvolvimento que sempre foi uma das suas características.

E não é só politicamente que a região precisa de se unir para a promoção de um processo de construção de seu desenvolvimento. É necessário responsabilidades teóricas e práticas para pensar a viabilidade de fato, tanto da sociedade civil, dos governos, como das universidades e instituições de pesquisas. E além disso, o Nordeste precisa criar uma rede de pensadores da técnica, como os antigos institutos e aparelhos afins, sem as chamadas aves de rapina. Porque a região somente não tem viabilidade quando as mãos sujas dos oportunistas se aparelham disso. Porque o Nordeste também é Brasil, tem competência e capacidade para tanto.

Já está mais do que na hora de acabarmos com o desemprego alarmante, os índices abaixo da linha da pobreza, os fatais índices de Desenvolvimento humano, social e econômico, o proselitismo político de alguns, bem como o discurso silencioso dos oportunistas de que a fome mantém o povo em perfeita ordem e obedientes como bois. Já está na hora dos nordestinos se unirem para construir uma nova região e atrair os investimentos capazes de consolidar uma nova era entre nós. Já está na hora...!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Entrevista com Carlos Mariguella (1967)

Em 1967, de Cuba, Marighella convocou o povo brasileiro para pegar em armas e lutar contra a ditadura militar
 

Se estivesse vivo, o fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), Carlos Marighella, completaria 100 anos nesta segunda-feira. Um dos principais arregimentadores da luta armada no Brasil, o revolucionário defendia a guerrilha como única forma de superação da ditadura e da influência Norte-Americana no país.

Suas posições políticas e seu conflito com o Partido Comunista Brasileiro foram expostas numa entrevista veiculada pela rádio Havana (Cuba) em 1967, logo após a realização da primeira Conferência da OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade), onde métodos para a revolução em países latinos foram debatidos.

A entrevista foi ouvida no Brasil por alguns militantes de organizações de esquerda que sintonizavam a rádio Havana em ondas curtas. Ela serviu como fonte de mobilização para jovens que estavam dispostos a pegar em armas na luta contra a ditadura.

Trechos dessa entrevista foram publicados em trabalhos acadêmicos e livros sobre a ditadura. O áudio com a íntegra, contudo, ficou perdido por anos. O material foi recuperado recentemente, durante pesquisas feitas por uma das militantes que trabalhou na construção da ALN, Iara Xavier. Ela é irmã de Iuri Xavier - que foi um dos líderes da ALN assassinado pela ditadura em 1972.

Asseguir trechos da entrevista:

Pergunta: Um telegrama da agência de notícia francesa France Press, fechado hoje no Rio de Janeiro, disse assim: Carlos Marighella será expulso por indisciplina do comitê central do Partido Comunista Brasileiro, informa hoje a imprensa de Brasil. Os diários locais, que se baseiam em informações de recorridas em organismos de segurança brasileiros, indicam que essa decisão do PCB foi motivada pelo fato de Marighella ter ido à Havana para assistir à Conferência da OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade. Precisamente nos encontramos sentado à frente de Marighella, no seu quarto no hotel Habana Libre, para que nos dê sua resposta a este telegrama e ao tempo nos fale a respeito da situação atual do seu País.

Carlos Marighella: O que tenho a explicar ao povo Cubano é que estes telegramas indicam apenas que os periódicos brasileiros procuram utilizar-se do episódio da minha vinda a Cuba para fazer provocações contra os revolucionários. A notícia de que eu serei expulso do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro ou do Partido Comunista Brasileiro por indisciplina é baseada no fato de que foram obtidas informações nos organismos de segurança brasileira, quer dizer, dos organismos policiais, que não podem realmente saber de nada. De qualquer maneira, como tenho uma posição divergente em relação à direção do Partido Comunista Brasileiro, pois sou partidário da luta de guerrilhas como caminho para solução dos problemas do nosso povo, creio que seria ridículo expulsar um revolucionários somente porque veio a Cuba trazer a solidariedade do povo brasileiro à revolução cubana e à Primeira Conferência de Solidariedade Latino-Americana.

Quanto à questão levantada nestes telegramas, que noticiam as posições dos jornais brasileiros que pertenço a uma fração do partido Comunista juntamente com outros camaradas, no sentido de desrespeitar as decisões do Partido Comunista Brasileiro, porque somos favoráveis à luta armada, devo esclarecer ao povo cubano que não pertenço a nenhuma fração.

Sou o primeiro-secretário do Partido Comunista em São Paulo, do Comitê Estadual do Partido Comunista em São Paulo, e não tenho nenhuma necessidade de organizar grupo, fração, nem mesmo de organizar um novo partido comunista, porque já temos em nosso país muitas organizações.

Há grande confusão ideológica, muita gente que pretende atribui-se a condição de líder, de dirigente, mas tudo isto baseado em declarações, na elaboração de informes, na realização de reuniões, quando o fundamental para nós no Brasil é passar para a ação, desencadear a luta armada.

É organizar a luta de guerrilhas. Somente em torno da luta de guerrilhas, somente em torno de um caminho revolucionário como esse é que se pode realizar a unidade dos revolucionários, a unidade do povo brasileiro.

Assim, seria perder tempo participar de frações, tentar organizar novos partidos e tentar percorrer o caminho tradicional que não nos ajudará em coisa nenhuma e só nos levará a passar ainda mais anos na pasmaceira em que nos encontramos atualmente.

Minha posição e a dos camaradas que estão com a mesma disposição que tem a mesma convicção é exatamente a da preparação da luta armada, do desencadeamento da luta de guerrilhas e da concentração de todos os esforços nessa atividade. Era isso que tinha a esclarecer

Pergunta: Marighella, existem no Brasil forças revolucionárias capazes de resistir à ditadura de ir à luta armada contra o regime?

Marighella: Sim. Existem essas forças. As forças revolucionárias capazes de resistir à ditadura e ir a uma luta armada contra o regime encontram-se dentro do Partido Comunista Brasileiro e fora do mesmo partido. Há várias organizações, agrupamentos, correntes e forças outras que defendem posição revolucionária que estão dispostas de ir à luta armada, que têm convicção que o caminho brasileiro para a salvação de nosso povo é a luta armada, e que podem realiza-la. Quando existem condições tais como as que se apresentam em nosso país essas forças revolucionárias são criadas praticamente dia-a-dia e hora-a-hora. O que é preciso é passar para a ação. Fazer com que essas forças se coordenem no mesmo sentido e que passem no desencadeamento da luta e se prepararem. Que vão, portanto, à área rural, que é onde nós podemos, no Brasil, desenvolver a luta que pode ser apoiada pelos trabalhadores, por todo o povo dentro das áreas urbanas e, nesse sentido, marchar para conseguir a vitória que no Brasil só poderemos conseguir se juntarmos esse nosso esforço ao esforço de todos os outros povos Latino-Americanos.

Pergunta: Agora a gostaríamos de perguntar a cerca da responsabilidade que corresponde ao PCB ante ao golpe militar de 1964?

Marighella: Não há propriamente responsabilidade do Partido Comunista Brasileiro em relação ao golpe militar de 1964. A responsabilidade, se quiséssemos falar assim, maior, realmente cabe à direção do Partido Comunista Brasileiro. Por que a direção do Partido Comunista Brasileiro cabe orientar as bases, traçar os planos e orientar todo o povo, dar as diretivas necessárias para que a luta seja enfrentada.

Ora, a direção do PCB seguiu caminho de submissão à liderança da burguesia. Confiava que os generais brasileiros pudessem vir a resolver a situação do povo. Confiavam num dispositivo militar. Realizava, na verdade, ou propunha a realização, de um trabalho de cúpula nos altos níveis das organizações.

Não era trabalho realizado pela base, em que o povo participasse diretamente de baixo para cima e, por tanto, um trabalho que tivesse estrutura firme em que o proletariado, o campesinato, as forças de massa do Brasil estivessem mesmo atentas para a situação. Então, a direção do nosso partido era direção que estava se conduzindo com base de ilusões de classe, de ilusões com a burguesia.

Evidente que com essa posição deixou o povo brasileiro inteiramente despreparado e, quando sobreveio o golpe militar de 1965, evidente que não havia condições para a resistência. O povo se encontrava na rua. Não tinha armas, entretanto.

E não havia ação daquelas forças do governo e da burguesia que o partido, ou melhor, a direção do partido, sustentava que iriam reagir. O resultado é que inteiramente desprevenidos e despreparados com todas as ilusões que haviam sido defendidas pela direção do partido, ficou todo o povo brasileiro impossibilitado de impedir que o golpe se concretizasse, como acabou se concretizando.

Esse é o caso típico de uma lição, de um ensinamento que se pode obter exatamente pelo fato de que a liderança comunista deixa de acreditar no proletariado como força dirigente da revolução, deixa de acreditar no aliado fundamental do proletariado, que é o campesinato, para lançar-se de mãos e pés amarrados diante da burguesia.

Sem condições, portanto, de impedir o golpe que fatalmente virá em quaisquer circunstâncias sempre que o Partido Comunista não se preparar para a luta armada e não se preparar para organizar as forças armadas do povo, que é a única coisa que pode deter a posição, a ação dos imperialistas Norte-Americanos contra a liberdade do povo brasileiro ou dos povos da América-Latina.

Pergunta: Que forças revolucionárias e que tipo de organização crê o senhor lograria a aliança armada entre trabalhadores e campesinos que se faz necessária para chegar a criar o núcleo do exército de liberação brasileiro?

Marighella: O que nós revolucionários comunistas estamos empenhados na luta armada e temos a forte convicção que só a luta armada resolverá a questão brasileira, o que nós revolucionários, o que nós comunistas estamos pensando, é que em face da situação brasileira e das organizações que ali existem, o que deveríamos fazer é procurar lançar a luta de guerrilhas na área rural do País sem nos preocuparmos em que qualquer das organizações existentes tomasse a inciativa.

Não se trata que esta luta armada, que essa guerrilha no Brasil tenha que ser organizada somente pelo Partido Comunista Brasileiro ou por qualquer outra organização existente dentre as que atuam no Brasil, sejam as organizações dos partidários de (Leonel) Brizola, de (Miguel) Arraes, do (Francisco) Julião, da Ação Popular, da POLOP, da Política Operária e mesmo das organizações da esquerda católica.

O problema não se situaria, portanto, na situação agora de uma organização que fosse dar a diretiva de luta armada, mas começar a luta armada com os revolucionários de dentro e de fora do partido, e de todas as organizações que estejam dispostas dentro de um plano estratégico político global, a iniciar a luta.

Fazer com que esta luta armada, que no caso brasileiro, como no caso Latino-Americano, penso, tem que ser a luta guerrilheira. Fazer com que essa luta tenha um caráter duradouro, que dure, que tenha continuidade, ainda que a principio seja luta que mobilize um grande número de homens, mas que possa obter êxito iniciais e manter-se e implantar-se na área rural do país. Isso dará confiança ao povo brasileiro e essa luta progredirá.

E nessas condições, então, no processo, será possível criar-se a verdadeira organização revolucionária capaz de levar a vitória ao povo brasileiro através da luta de guerrilha.

Pergunta: É possível lutar pelas reformas de base de forma pacífica em um Brasil governador por gorilas?

Marighella: Não. Não é possível lutar por essas reforma através do caminho pacífico num Brasil com a ditadura que tem no presente momento. Já anteriormente, quando havia o governo de João Goulart, nós seguimos, ou melhor, nosso partido, sua direção, enfim, os revolucionários no Brasil seguiram esse caminho, de lutar pela reforma de base pelo caminho pacífico e sob a liderança da burguesia. Isso nos levou a um fracasso completo e total pois, nas condições atuais, a burguesia no Brasil e em outros países não tem condição de dirigir a revolução.

E não há condições também, no momento em que o imperialismo lança mão de sua estratégia global, não há condições para se obter a vitória pacífica através dessas lutas pela reforma. As reforma de estrutura, de base, que necessitamos no Brasil, e de que necessitamos em muitos países da América-Latina, só se pode conseguir através da luta revolucionária.

Ou melhor, através da tomada do poder pela via revolucionária. Quando somente então, e com forças armadas do povo em ação, podemos dominar a ação das forças reacionárias, a ação do imperialismo e realizar essas reformas e levar o País até o socialismo. Fora disso não é possível. E a lição que recebemos no Brasil e uma lição que pode servir para os demais povos da América-Latina.

Pergunta: Marighella, por último, gostaríamos perguntar o seguinte: que espera o movimento revolucionário brasileiro desta primeira conferência da OLAS?

Marighella: Para o povo brasileiro a primeira Conferência de Organização Latino-Americana de Solidariedade, Olas, significa muito, significa mesmo o passo mais avançado que foi dado na América-Latina, para que reunamos todas as nossas forças num plano estratégico global visando obter a liberação de nossos países do julgo do imperialismo Norte-Americano. Somente agora, e depois que a revolução cubana conseguiu sua grande vitória, e se encaminhou pelo terreno da construção do socialismo no primeiro país da América-Latina, tornou-se possível congregar todos esses esforços, dos revolucionários de toda a América-Latina, como acontece agora nessa primeira Conferencia da Organização Latino-Americana de Solidariedade para enfrentar a estratégia global do imperialismo Norte-Americano.

Espero que o movimento revolucionário brasileiro saberá compreender a importância dessa primeira Conferência Latino-Americana de Solidariedade e que se junte aos esforços que todos fazemos no sentido que, como disse o comandante Che Guevara, criar um, dois três, muitos Vietnãs

Fonte: IG Noticias

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A falta de vergonha que ainda impera

Por Genaldo de Melo

Vamos parar um pouco de ser tão liberal demais! Sou contra a liberalização da maconha, e tenho os motivos da experiência do que vi de outros da minha geração dos anos oitenta, que consumiam essa verdadeira peste que consome mentes e corações.
Sou contra a maconha, porque sou, e acabou a história, e pronto! Quem quiser discordar de mim, que discorde porque esse é o princípio da democracia. E democracia é assim mesmo, é reconhecer as qualidades dos inconvenientes. Quem quiser fumar a maconha velha podre, que fume, mas me deixe o direito de ser contra a preguiça, a falta de memória, bem como o pecado safado da gulodice dos maconheiros.
Se o ex-presidente, com sua boca de envelope amassado quer defender a liberação das drogas que faça, mas respeite os cidadãos que são contra a drogadição. Fico extremamente estarrecido ver um sociólogo reconhecido como é o caso dele, depois de velho assumir o discurso da maldade que corrompe nossa juventude.
Parece que o homem ficou doido depois que sua mulher morreu. A gente ver que grande parte dos males sociais é oriunda dessa doença social. Por isso que não concordo com o discurso dele, bem como vou aproveitar em todos os momentos que puder e em todos os espaços de mídia que eu tiver para combater essa atitude, porque tenho filhos para cuidar e defender.
Com tanta gente pensando estratégias para combater os problemas sociais, especialmente a drogadição que tanta violência tem causado para o mundo moderno, ainda aparecem esses loucos esclerosados dizendo em alto e bom som que se deve liberar a maconha. Pelo amor de Deus tenha paciência e respeite a gente, que somos cidadãos de bem e cumprimos nosso papel na sociedade!
Prefiro ser careta, mas sadio!




terça-feira, 29 de novembro de 2011

A incógnita Feira de Santana

Por Genaldo de Melo
Dizer de antemão quem será o vencedor do próximo 03 de outubro no segundo maior colégio eleitoral da Bahia é mínimo uma grande heresia, senão uma loucura. Porém todos os cidadãos que conheço, já sabem de antemão, e opinam sobre quem será de fato o próximo Chefe do Executivo Municipal, porque simplesmente todos são apaixonados de alguma forma por um nome, grupo ou mesmo partido político.
Para quem quiser fazer uma análise mais fria de antemão, ou mesmo cientificamente para alguns, Feira de Santana é uma verdadeira incógnita eleitoral em 2012. Quando se fizer a matemática dos fatos infere-se naturalmente em quatro nomes, que em seus entornos giram os mais diversos grupos políticos, bem como os mais variados projetos de poder no município.
Tem o ex-prefeito, José Ronaldo, que conseguiu aglutinar em torno de si vários grupos, lideranças e partidos políticos, embalsamado na condição de maior liderança do interior do Estado de sua agremiação partidária. Oriundo do mesmo projeto político de poder, mas agora brilhando sozinho na condição de Chefe do Executivo Municipal, tem Tarcísio Pimenta, que ungido nessa situação privilegiada, tem em torno de si os mais variados satélites políticos.
Com o mesmo brilho das estrelas que não são cadentes, tem o petista Zé Neto, que a qualidade e a condição de líder do Governo Estadual na Assembleia Legislativa, já são o bastante para qualquer bom entendedor saber qual é mesmo seu projeto, coordenando vários processos que somente os cegos políticos não conseguem enxergar. Do mesmo modo, apesar dos percalços da vida, mas ainda considerado pelos feirenses como uma reserva moral, tem o ex-deputado federal Colbert Martins, coordenando em torno de si movimentos silenciosos, mas para “olhos de lince” não consegue esconder.
Além desses grupos já consolidados na condição de se apresentarem como opção de projetos de poder para Feira de Santana, existe outros paralelos que vão naturalmente vão colocando-se na postura da negociação. Do mesmo modo, tem os vereadores do município e lideranças que não conseguiram uma vaga na Câmara de Vereadores em 2008, onde alguns no auge da capacidade de influenciar grupos colocam-se sempre como articuladores de processos políticos. Mas é bom lembrar que sozinho vereador nenhum tem a condição de eleger prefeito, pois eles que estão na casa da Cidadania, bem como aqueles outros que não conseguiram se eleger, não passaram de cinco mil votos, considerando poucas exceções.
O embate vai ser bom e é melhor os apaixonados trabalharem, pois na politica o maior mistério é não haver mistério algum, pois o maior deles é exatamente o eleitor feirense. Vamos prá frente, que a incógnita vem por aí!


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Um desabafo negro

Por Genaldo de Melo

Comemoramos no último 20 de novembro o Dia da Consciência Negra, porém considerando que todos os dias do ano devem ser naturalmente comemorados o valor dos povos afrodescentes, que foram os grandes responsáveis pela construção das riquezas do Brasil. País este formado predominantemente por populações negras.

Com esse fato devemos fazer uma profunda reflexão do que foi a escravidão no Brasil, se ela de fato acabou, bem como também passar um olhar mais profundo sobre os novos aspectos da escravidão moderna imprimida pelo poder econômico dos dominadores do Capital.

Precisamos não somente do dia 20 de novembro para relembrar nossas raízes africanas, deveremos o tempo todo repensar novas formas de consciência e de luta perante um inimigo que hoje consegue superar inclusive os métodos de escravizar pessoas do antigo Império Romano, que é o Capital. Com a queda deste Império acaba-se oficialmente a escravidão no mundo, apesar dela nunca ter deixado de existir, pois o Capital necessariamente sustenta-se da escravidão de seres humanos, subjugados ao interesses particulares de poucos.

Com a necessidade de manutenção de seu “status quo”, o Capital, diga-se os ricos de Portugal, Espanha e outros países que por estas terras pararam, calculadamente, segundo Celso Furtado, inventou de novo de modo oficial a escravidão negra. Quem eles escolheram para isso? O povo da África que viviam tranqüilos com seus valores culturais, religiosos e paradigmas, porém desarmados. E um homem ou mesmo um povo desarmado jamais enfrenta um carrasco “armado até os dentes”.

Quando a gente fala contra o Capital, às vezes ainda somos chamados de comedores de crianças indefesas. Quando a gente fala sobre a escravidão no Brasil e nas Américas, somos considerados os românticos adeptos da subversão do Oficial.  Quando a gente chama as pessoas para fazerem uma profunda reflexão no dia 20 de novembro, a gente precisa ter o cuidado, como se fossemos culpados de alguma coisa, para não sermos observados pelos 20% da população detentora do Capital, como negros metidos “a besta”, querendo formar opinião no vazio.

Porém o Dia da Consciência Negra e todos os dias do ano são mesmo para darmos nosso grito de liberdade, mesmo que seja apenas um, já que somos os novos escravos modernos da máquina do Capital. Quem foi mesmo que disse que hoje os negros são livres? Quem foi mesmo o falsário que conseguiu até os dias de hoje nos convencer que trabalhar de segunda-feira a sábado, e até mesmo em domingos e feriados, sem uma justa remuneração por nossa força de trabalho, seja a tão esperada liberdade de nossas raízes que vieram da África para aqui sofrer os horrores e a maldade da escravidão?

Ora, deixe-nos em paz para pensar como deve ser nossa liberdade, mesmo obedecendo aos rigores da lei, porque não somos anarquistas somos gente e somos povo! Foi o Capital que criou a escravidão, por necessidade nos libertou mentirosamente, e por necessidade criou os novos métodos de escravidão. Porém vamos aproveitar para também criar nossos métodos de nos libertar.

Consciência negra neles sempre, gente...!

A crise econômica e os dilemas da União Europeia

A classe trabalhadora, mais cedo ou mais tarde, buscará uma alternativa para a crise
  
Editorial da edição 455 do Brasil de Fato

Até a década de 1990, era comum nas análises econômicas encontrarmos o Japão, os EUA e a Europa caracterizados como o tripé da economia mundial. De fato, depois da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) os EUA emergiram como a principal potência capitalista do planeta. Ao mesmo tempo, para se contrapor à influência da URSS, os EUA contribuíram decisivamente para a recuperação econômica do Japão e da Europa arrasados pela guerra. Desde então, EUA, Japão e Europa se destacaram como o centro dinâmico do capitalismo.

A partir da década de 1970, o capitalismo adentrou, gradativamente, numa etapa de acumulação marcada pela hegemonia do capital financeiro, por constantes crises cíclicas de superprodução e baixas taxas de crescimento econômico. A economia japonesa está estagnada desde o início da década de 1990. A economia estadunidense, também estagnada, acumula seguidos déficits fiscais e altas taxas de desemprego. Agora, a crise econômica mundial castiga principalmente a Europa.

As projeções da Comissão Europeia (CE) para 2011 revelam que a taxa de desemprego na zona do Euro vai atingir os 10%. Um percentual considerado preocupante e com tendência de subir. A projeção para o presente ano é que o crescimento econômico da zona do Euro será mínimo, em torno de 1,5%. Prevê ainda que, em 2012, ocorra uma expansão na economia de 0,5%. Isso se tudo der certo, ou seja, se a União europeia conseguir manter sob controle a crise da dívida que ameaça afundar o Euro e aprofundar a crise econômica mundial. Diante desse nebuloso cenário em que se encontra o Velho Continente, podemos tirar algumas conclusões:

Estamos assistindo à dissolução da utopia liberal e capitalista que concebeu a construção da União Europeia. Ou seja, uma crise do projeto de integração econômica e política de uma Europa inclusiva e sem fronteiras. Predominou a velha desigualdade de riqueza e poder que sempre impulsionou os revanchismos, xenofobismos e rivalidades de um continente historicamente belicoso.

O atual endividamento dos Estados nacionais da Zona do Euro foi agravado, em grande parte, porque na crise de 2008 e 2009 esses países se endividaram para socorrer o setor privado: as corporações capitalistas e os grandes bancos.

A União Europeia entrou numa camisa de força ao estabelecer unidade monetária sem unidade fiscal. Secundarizou, portanto, a desigualdade entre as nações, algo inerente ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. A atual crise da dívida gerou uma crise fiscal que é incompatível com a meta do euro forte e estável.

A União Europeia não orienta a Grécia e outros países a aplicar políticas anti-cíclicas baseadas no investimento produtivo para gerar demanda efetiva e, assim, potencializar o consumo dinamizando a economia. Insiste nas receitas ortodoxas neoliberais como recomenda o FMI. Outra expectativa do capital financeiro para minimizar a crise é que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) contribuam financeiramente para o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Os BRICS não concordaram. O governo brasileiro, corretamente, descartou essa possibilidade. A China, fundamental no xadrez geopolítico mundial, se mostrou reticente.

Existe um esforço por parte do mercado financeiro, dos grandes bancos e corporações para evitar a participação popular na solução da crise. É uma tentativa inútil, desautorizada pela história, de separar as contradições da economia da política de massas. Prova disso é o caso da Grécia. No momento em que se colocou a possibilidade de fazer um plebiscito para saber se a população concordava ou não com os termos do acordo de salvação financeira daquele país, ocorreu uma reação imediata e contrária à realização do plebiscito. É o mercado financeiro atentando contra a soberania dos Estados nacionais.

A solução institucional do “governo de união nacional” viabilizada na Grécia e, provavelmente, na Itália é uma tentativa do capital financeiro de legitimar os draconianos ajustes neoliberais. Ao mesmo tempo, esse tipo de governo tem uma tendência a frustrar as massas abrindo uma nova etapa de lutas sociais. Esse sentimento de frustração das massas europeias poderá ser potencializado por uma socialdemocracia sem projeto, frágil e descaracterizada ideologicamente. A classe trabalhadora, mais cedo ou mais tarde buscará uma alternativa para a crise. Esperamos que seja uma alternativa pela esquerda.

Tahrir, a praça política mais eficaz do mundo

A praça Tahrir, no centro do Cairo, sugere uma dessas rotatórias inóspitas,como tantas outras, destinadas a ordenar o fluxo do trânsito nas grandes metrópoles subdesenvolvidas, pouco ou nada pensadas para o convívio humano. Mas desde fevereiro deste ano, quando foi palco de 18 dias consecutivos de protestos gigantescos que derrubaram o ditador amigo das potências, Hosni Mubarak, a praça Tahrir ingressou definitivamente no panteão dos símbolos libertários do nosso tempo.

Na sua textura inóspita o povo egípcio plantou uma das mais vigorosas sementes da primavera política que sacode o norte africano e todo o Oriente Médio. Desde a última 6ª feira, a semeadura tem sido regada a sangue outra vez (
veja as cenas).

Novos confrontos, a partir de Tahrir, espalham-se por todo o país com um saldo devastador nas últimas 72 horas: 33 mortos pela repressão do Exército; 1.500 feridos e a renúncia do gabinete civil que desde a queda de Mubarak ordena a transição democrática, subordinado à mão dura militar.

A uma semana das eleições parlamentares, a sociedade egípcia está farta da tutela que pretende se sobrepor à nova institucionalidade, esvaziando-a na prática, a exemplo do que os mercados financeiros fazem com as democracias maduras de uma Europa em transe. No Egito, o definhamento opera pelo canal do adiamento das eleições presidenciais; na zona do euro, com a captura do Estado pela lógica financeiro, tornando ornamental a rotatividade do poder.

A principal singularidade egípcia está na eficácia das grandes mobilizações de massa. Armadas de alvos claros, cirúrgicos e avessos às tergiversações conservadoras --mas permeados de intensa capilaridade junto a organizações civis e partidos políticos, ao contrário do mito da 'revolução digital'-- , elas arremetem contra o despotismo de plantão com uma contundência pavorosa para os seus ocupantes. Foi assim que Tahrir derrubou Mubarak em 11 de fevereiro, após 18 dias de protestos que custaram 300 mortos e cinco mil feridos.

É assim que ela se volta agora contra o cabresto militar, unificando partidos e vozes em uma exigência clara, incontornável, de rápida aderência popular: fim da tutela --ou como se ouve em Tahrir, 'deixem-nos respirar; deixem-nos viver'. A articulação e a objetividade das jornadas nascidas na praça política mais eficaz do mundo talvez tenham algo a ensinar aos indignados do resto do planeta, ainda carentes da mesma habilidade para traduzir o descontentamento social em alvos progressivos, práticos, de precisão egípcia.

A Chevron não se preparou para enfrentar o vazamento

Editorial do Vermelho

O vazamento de petróleo num poço de petróleo da Chevron, no Campo de Frade, no litoral do Rio de Janeiro, iniciado em 7 de novembro, permite uma comparação entre as atitudes do governo brasileiro e a de outros governos na qual o Brasil sai bem no retrato, como se diz. E revela o despreparo de empresas que absolutizam o lucro e descuidam das regras de segurança.

A empresa responsável pelo desastre não é novata no ramo. É a norte-americana Chevron, atual nome da antiga Standard Oil, que opera no Brasil desde 1915 e, no passado, usava a marca Texaco. É a terceira maior petroleira do mundo e uma das tristemente célebres “sete irmãs” do petróleo, símbolo do imperialismo mais ganancioso e de uma história marcada pelo desrespeito e pela agressão à soberania e aos direitos dos povos.

Tudo indica que, no litoral fluminense, tenha tentado aplicar os velhos truques do imperialismo. Ela estava autorizada a perfurar ali até 3329 metros abaixo do nível do mar, mas usava uma broca capaz de chegar a 7600 metros, despertando a suspeita, na Polícia Federal, de tentar roubar o pré-sal, atingindo profundidades de exploração para as quais não fora autorizada no contrato de concessão assinado com o governo brasileiro. Suspeita que, se for comprovada, indicará uma grave quebra de contrato e a intenção de criar um fato consumado para chegar a um petróleo cobiçado mas cuja exploração é regida por regras especiais – o rico petróleo do pré-sal.

Todos os sinais são de que a empresa norte-americana cometeu ilegalidades graves que serão punidas com multas e podem chegar inclusive à proibição de continuar operando no Brasil.

A primeira foi o descumprimento das obrigações que assumiu ao assinar o contrato de concessão : a empresa, diz a ANP, não tinha equipamentos adequados para estancar um vazamento, atuando portando em desacordo com a legislação brasileira. “Eles não estavam preparados”, explicou o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima; “não tinham equipamentos para o plano que eles próprios propuseram”.

Outra ilegalidade foi a tentativa de minimizar o vazamento. Seus diretores, acusa a ANP, tentaram esconder informações importantes e fotos do vazamento, para ocultar a verdadeira extensão do desastre. Segundo a ANP, vazaram, durante mais de uma semana, acima de 2.700 barris, mas a Chevron admitia muito menos: 650. Na segunda feira (21), diante das evidências, ela corrigiu sua “avaliação”. Além das duas multas, há uma terceira em estudo.

A Polícia Federal acusa também a Chevron de tentar esconder o petróleo vazado empurrando-o para o mar usando jatos de areia de alta pressão. Essa técnica é proibida no Brasil pois dispersa pelo oceano o petróleo vazado que deve ser recolhido. Jatear é um procedimento mais barato, daí a preferência por este método que permite fugir dos altos custos da limpeza com o uso de uma técnica ambientalmente mais correta.

A investigação vai avaliar se houve erro deliberado ou má-fé, e não vai “passar a mão na cabeça”, disse Haroldo Lima. A Transocean – terceirizada pela Chevron para perfurar o poço, e envolvida no desastre  do Golfo do México, em abril de 2010 – também será multada e pode ser proibida de atuar no Brasil. O governo do Rio de Janeiro já anunciou que vai cassar sua licença de funcionamento no estado, por imperícia e descumprimento da legislação ambiental. Para coroar este roteiro que confronta a legislação brasileira, a Chevron também é suspeita de ter trazido para atuar em suas perfurações funcionários estrangeiros sem autorização para trabalhar no país, denúncia que está sendo investigada pela Polícia Federal.

A diferença marcante na comparação entre o vazamento da Chevron no litoral fluminense e o ocorrido no Golfo do México, em abril de 2010, foi a rapidez da resposta do governo brasileiro e a pronta ação da ANP para exigir a tomada de providências pelos responsáveis pelo desastre.

Elas contrastam com a lerda resposta do presidente Barack Obama. Lá, o desastre ocorreu em 20 de abril de 2010 e matou onze trabalhadores. Mesmo assim, foi só um mês depois, em 18 de maio, que seu governo nomeou uma comissão para apurar as responsabilidades. Aquele acidente revelou a escandalosa cumplicidade entre os executivos das empresas petroleiras e a agência norte-americana que controla o petróleo – a ANP deles. A subserviência da agência empresas era tamanha que o diário The New York Times condenou, em editorial, a corrução e a ineficiência do governo em controlar os desmandos das empresas cuja atuação deveria fiscalizar.

No Brasil ocorre o contrário. A presidente da República, Dilma Rousseff, determinou a "rigorosa apuração" assim que tomou conhecimento do ocorrido, e a ANP agiu com presteza semelhante e imediatamente pôs seu corpo técnico a campo para apurar as responsabilidades.

Essa ação desmente comentaristas apressados que, na mídia dos patrões, acusam o país de não ter um plano para enfrentar desastres desse tipo. O que fica claro, no episódio, é o despreparo das petroleiras estrangeiras, e não das autoridades e técnicos brasileiros.

O Brasil e a arma hipersônica dos EUA

Por Mauro Santayana, em seu blog:

O fato de os Estados Unidos, mesmo em crise econômica e política - com milhares de pessoas ocupando as ruas para protestar contra o sistema - terem anunciado o sucesso, há três dias, do vôo de teste, entre o Havaí e as Ilhas Marshall, de uma nova bomba voadora, de velocidade supersônica, capaz de atingir qualquer ponto do globo em menos de uma hora, tem que servir de alerta para o Brasil e para os BRICS.

Enquanto investimos bilhões na compra de equipamento e tecnologia militar obsoleta, como os submarinos Scorpéne e, eventualmente, o Rafale, desenvolvidos há mais de 30 anos, os Estados Unidos não cessam de pesquisar novas armas de destruição em massa, e sistemas de armamento naval como o canhão magnético de munição cinética, anunciado no ano passado, que não depende de combustível para atingir alvos a uma distância de 300 quilômetros.

Isso, apesar de Washington ter um déficit de 7 trilhões de dólares, boa parte dele derivado dos 35 bilhões de dólares que gasta, por semana, para manter seus soldados no Iraque e no Afeganistão, países dos quais já prepara a retirada de suas tropas convencionais - com o rabo entre as pernas - a partir do ano que vem.

A insistência de os Estados Unidos em continuarem se armando, mesmo em uma situação de crise econômica e institucional crescente, aponta para a cristalização de uma perigosa equação, que, do ponto de vista do resto do mundo – excetuando-se a Europa, cada vez mais submissa aos interesses norte-americanos - equivale a um mendigo louco com uma arma na mão na praça de alimentação de um Shopping, ou, à velha metáfora, mais usada antigamente, de um macaco solto em uma loja de louças.

Como a história mostrou nos anos do equilíbrio do terror da Guerra Fria, quando os EUA não ousariam invadir países como o Iraque e o Afeganistão, sem a aquiescência tácita da URSS, de nada adianta construir uma nova ordem multipolar, se o poder no mundo continuar obedecendo a uma situação unipolar do ponto de vista militar.

O BRICS tem se erguido, nos últimos anos, na economia e na diplomacia, justamente para fazer frente à Europa e aos Estados Unidos, porque o mundo não pode continuar refém, como tem acontecido, das decisões que são tomadas em uma Europa e em uma América do Norte cada vez mais frágeis, no âmbito político-institucional, e cada vez mais decadentes, do ponto de vista econômico.

Nada disso funcionará, no entanto, se a projeção do crescente poder do BRICS não se fizer, também, na área militar. Não dá para se pensar em uma estratégia de defesa viável, no futuro, se não juntarmos nossos recursos financeiros e tecnológicos, nosso conhecimento e nossos pesquisadores militares aos da Rússia, da China, da Índia e da África do Sul para o desenvolvimento de uma nova geração de armamentos que vá, como está ocorrendo com os Estados Unidos, um pouco além do armamento convencional hoje existente.

Não se pode confiar nem cooperar com os países ocidentais nessa área. Eles só nos vêem como “parceiros” da hora dos coquetéis de seus adidos militares, ou no quando tem interesse de nos vender material obsoleto para utilizar o lucro no desenvolvimento de novas gerações de armamentos. Quando chega o momento de a onça beber água, eles se aliam entre si, e nos vêem como sempre nos viram, como um bando de subdesenvolvidos. Que o diga a Argentina, que até hoje não esqueceu as lições que aprendeu quando precisou de armamento para reposição na Guerra das Malvinas.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Os novos soldados do capitalismo

Por Antonio Martins, no sítio Outras Palavras:

Na madrugada de terça-feira, durante o assalto ao acampamento do Occupy Wall Street,a polícia de Nova York adotou métodos primitivos. A entrada da imprensa na área da operação polícial foi vetada. Ydanis Rodriguez, um membro do parlamento local, foi agredido e preso, quando tentava encontrar-se com os manifestantes. Houve mais 200 prisões, uso generalizado de gás pimenta e golpes de cassetete. Uma biblioteca de 5 mil livros foi atirada a um contêiner de lixo.

Mas estas cenas de brutalidade são apenas um aspecto menor da operação. Notícias publicadas ontem (15/11) nos jornais norte-americanos, e análises de mais fôlego na imprensa alternativa, revelam algo mais grave. Articulou-se nas últimas semanas, nos Estados Unidos, um esforço policial coordenado, com objetivo de suprimir um movimento que, embora tenha sempre agido de modo pacífico, passou a ser encarado como uma ameaça ao status quo. A investida contra o Occupy reflete a militarização das forças de segurança dos EUA, cada vez mais voltadas a identificar e combater “inimigos internos” — e equipadas com sofisticado armamento “high-tech” contra eles.

Embora a decisão de desocupar praças caiba, institucionalmente, aos prefeitos, a ação policial está sendo tramada nacionalmente. Mais de 40 chefes de polícia das cidades em que o Occupy montou acampamentos mantiveram reuniões constantes nas últimas semanas, muitas vezes por meio de videoconferências. O objetivo dos encontros foi trocar informações sobre as formas mais eficazes de promover a desocupação. Pretende-se evitar, sobretudo, episódios constrangedores para as forças da ordem, nos quais a resistência pacífica as obriga a recuar.

O planejamento foi especialmente meticuloso contra o Occupy Wall Street, revelou o New York Times. Houve duas semanas de treinamento, mas os policiais envolvidos não foram informados, em nenhum momento, sobre o alvo e as circunstâncias de sua futura ação. Temia-se a mobilização social. Uma tentativa anterior de esvaziar o acampamento, em 14 de outubro, fracassou porque, informados previamente, os manifestantes conseguiram convocar apoio.

O último treinamento foi feito na noite de segunda-feira, 14/11. Mesmo então, segundo o jornal, não se mencionou o Zucotti Park — ou Praça da Liberdade, como foi rebatizada pelos acampados. Na convocação dos policiais falou-se apenas em “um exercício”. A decisão atacar o Occupy foi comunicada “apenas no último momento”.

Centenas de agentes foram mobilizados. O momento da operação foi escolhido meticulosamente. Sabia-se, depois de semanas de observação, que na madrugada de segunda para terça-feita o acampamento estaria mais vazio. O parque foi isolado por barreiras de policiais armados com escudos. No momento da desocupação, não era aproximar-se a menos de cem metros do local. Os jornalistas que já estavam na área foram retirados: a polícia alegou que desejava proteger sua “segurança”.

Que leva a polícia de um país que se orgulha de respeitar as liberdades civis a se voltar para a repressão contra protestos pacíficos? Num texto publicado também ontem, no siteAlternet, Heather “Digby” Parton, uma blogueira norte-americana premiada pela profundidade de suas análises (publicadas costumeiramente em Hullabaloo) , procura as respostas. Ela as encontra, principalmente, no que vê como três décadas de militarização das forças policiais norte-americanas. Primeiro, para enfrentar a chamada “guerra contra as drogas”; mais tarde (a partir do 11 de setembro), para a vigilância interna, adotada a pretexto da “guerra contra o terror”.

Desde 1980, reporta “Digby”, a polícia norte-americana tem sido preparada para assumir um número crescente de atividades de caráter mais tipicamente militar. Esta mudança se expressa em aspectos como o armamento e os uniformes policiais. Equipamentos como os fuzis M-16 e veículos blindados tornaram-se comuns – inclusive em unidades instaladas nos câmpus universitários.

A partir de 2001, esta tendência assumiu nova dimensão. As forças policiais foram envolvidas na vasta operação do governo Bush para ampliar a vigilância sobre os cidadãos. A lei “Patriot Act”, até hoje em vigor, permitiu violar o sigilo de comunicação e rastrear as operações financeiras. Criado na época, o Departamento de Segurança Interior (Department of Homeland Security) passou a coordenar as ações de espionagem interna. Tornou-se, rapidamente, a terceira maior agência estatal dos EUA. Tem orçamento anual de 55 bilhões de dólares. Horas após o ataque contra Occupy Wall Street, o cineasta Michael Moore lançava, pelo twitter, uma questão ainda não respondida: terá o departamento participado da operação contra os manifestantes?

Ainda mais importante, introduziu o conceito de “terrorismo doméstico”, orientando as forças da ordem não apenas contra os crimes tradicionais — mas contra um leque amplo e impreciso de atividades, que pode facilmente incluir a oposição política. As consequências foram explicitadas em 2006 por Joseph McNamara, ex-chefe de polícia de San Jose. Ele afirmou que, o novo cenário havia produzido “uma ênfase em treinamento paramilitar, que, em contraste com a antiga cultura, sobrepõe-se ao treinamento policial — segundo o qual, os policiais não deveriam atirar, exceto para se defender”.

Um dos aspectos mais controversos da nova postura foi a utilização costumeira de armas consideradas “menos-letais”. Digby conta que os teasers (que produzem choques elétricos e podem, em certas circunstâncias, matar) são apenas a ponta de iceberg de um vasto arsenal — utilizado, por enquanto, apenas em situações de treinamento. Ele é inteiramente voltado para a dispersão de protestos. Inclui, por exemplo, o ray gun,Posicionado no alto de um veículo e disparado contra uma manifestação, ele produz, nos que estão à frente, a sensação de um “soco invisível”, que provoca intensa dor e impede de continuar caminhando. Sintomaticamente, foi testado, em exercícios na Geórgia, contra soldados vestidos de manifestantes que portavam cartazes com dizeres como “Paz Mundial”, “Amor para todos” e “Paz, guerra não!”.

Ainda mais espantosos são os planos para desenvolver armas como teasers com alcance de cem metros ou, mesmo, aviões não-tripulados (“drones”), capazes de criar grandes “áreas de exclusão”, ao bombardeá-las com dardos virtuais que produzem choques elétricos. (Para descrição das armas, Digby baseou-se numa extensa reportagem de Ando Arike, publicada na revista Harper’s e disponível aqui, em versão pdf).

Ao final de seu texto, Digby debate uma questão política crucial. A militarização da polícia foi impulsionada no período imediatamente posterior aos ataques de 11 de Setembro. Na época, o choque provocado pelo terror e a onda de patriotismo que se seguiu garantiram amplo consenso social em favor das medidas de vigilância. O secretário de Defesa (e depois vice-presidente) Dick Cheney chegou a afirmar que “o Estado precisa tirar suas luvas”.

Este tempo passou. Numa época em que o terrorismo deixou de ser uma ameaça visível e crescem, em contrapartida, os protestos contra a desigualdade, o desemprego e o esvaziamento da democracia, qual será a conduta das forças policiais agora orientadas também contra alvos que podem incluir a dissidência civil, e dotadas de novo armamento? Como elas agirão, se os novos movimentos recusarem-se a receber ordens — que julgam ilegítimas — para refrear seus protestos?

As respostas estão em aberto. O que ocorreu em Nova York em 15/11 não é uma fatalidade, mas serve de alerta. Se a construção de uma sociedade mais justa inclui manter e ampliar as liberdades civis, então será preciso conhecer em profundidade, denunciar e reverter esta nova ameaça de desconstrução da democracia.

Entre a direita e a direita

A Espanha, nas eleições de domingo, está entre a direita e a direita. Por mais o PSOE busque recuperar o discurso, seus porta-vozes de hoje estão afônicos. Mas a Espanha não é um caso isolado. A esquerda está nas ruas, com os indignados do mundo inteiro, mas sem líderes, sem projetos e sem programas.

 

Nos meses fervilhantes de 1963, que antecederam o golpe militar, eu subia, com os professores de direito e homens públicos Edgard da Matta Machado e Alberto Deodato, a Rua da Bahia, eixo político e social de Belo Horizonte. Deodato, sergipano, que vivia em Minas desde moço, era advogado de latifundiários, assumia a sua posição de direita e convivia, com amabilidade, com pessoas de esquerda, como éramos Edgard e eu. De repente, ele, bem humorado, parou e comentou que contrariava a lógica e a física: como caminhava entre nós dois, estava entre a esquerda e a esquerda.

A Espanha, nas eleições de domingo, está entre a direita e a direita. Por mais o PSOE busque recuperar o discurso, seus porta-vozes de hoje estão afônicos: os sonhos de Pablo Iglesias, o fundador do socialismo espanhol, foram varridos pela timidez de Zapatero e seu grupo. Mas a Espanha não é um caso isolado. A esquerda está nas ruas, com os indignados do mundo inteiro, mas sem líderes, sem projetos e sem programas. Mesmo que os indignados espanhóis quisessem, não teriam em quem votar. Em seu desconsolo, tanto faz sufragar Rubacalba quanto Rajoy. Por isso mesmo espera-se a vitória do conservador, por ser uma alternativa ao que já se conhece.

O bipartidarismo de fato, que muitos admiram e querem, fecha o passo a terceiras idéias e novas personalidades. Desde a eleição de Felipe González que os socialistas buscam o acomodamento na Espanha. Naquele momento, a tática da moderação era necessária. É de se recordar que, nos debates no Parlamento, para a aprovação do nome do então jovem advogado andaluz como chefe de governo, em outubro de 1982, o chefe de fila da direita, Manuel Fraga Iribarne, comentou que Felipe aparecia na arena como un toro afeitado, ou seja, um touro com os chifres serrados, com discurso apaziguador. Mas Fraga advertiu que fora um touro de chifres aparados que matara o famoso toureiro Manolete em 1947, em Liñares.

Felipe foi um bom governante, na garantia das liberdades públicas, mas se manteve tímido na frente econômica, sem avançar sobre os Acordos de Moncloa, negociados pelo seu predecessor Adolfo Suarez. Os endinheirados, que vinham de Franco, mesmo que hajam cedido um pouco, continuaram governando de fato o país, mediante os bancos e as grandes corporações.

Essa falta de ousadia e outros equívocos levaram a direita a tomar o poder, em 1996, com Aznar, saudoso do franquismo e vassalo fiel de Washington. Ele ficou famoso pelo seu atrevimento ao tratar a América Espanhola como nos séculos 16 e 17, quando no auge do Império colonial.

Como é sabido, Aznar chegou a telefonar para o presidente argentino Eduardo Zuhalde, ordenando-lhe, com grosseria, que acatasse as exigências do FMI.

Zapatero começou com algumas esperanças, ao reduzir a submissão a Washington, ao retirar o grosso de suas tropas do Iraque, mas, pouco a pouco, foi aceitando as pressões, internas e externas, associando-se aos banqueiros e às corporações empresariais.

Desviando recursos recebidos da União Européia, financiou a compra de empresas estatais e privatizadas na América Latina – incluído o Brasil – em continuação à política neoliberal da direita. Com isso, ao não usar os recursos no próprio país, contribuiu para a grave crise econômica atual. A um sucedâneo da direita, que era o seu governo, os eleitores indecisos preferem o original, e votam agora em Rajoy. O mesmo fenômeno pode ocorrer na Europa, nos poucos países em que governos de centro e centro esquerda detêm o poder.

Mas muitos dos desiludidos dos partidos tradicionais, que agravaram a situação de desemprego, vão mais à direita e procuram os partidos racistas como alternativa. Há, assim, a rearticulação dos nazistas e fascistas, com seu ódio contra os estrangeiros, como ocorreu há dias na grande manifestação da ultra-direita em Varsóvia. O massacre da Noruega é uma séria advertência que os governantes estão desprezando.

Há, no entanto, duas possibilidades de que o centro-esquerda ganhe os pleitos futuros: a França, desanimada de Sarkozy e de seus crimes na Líbia; e a Alemanha de Angela Merkel, cuja política, ainda que bem sucedida em termos econômicos, dá sinais de fadiga.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.