terça-feira, 29 de novembro de 2011

A incógnita Feira de Santana

Por Genaldo de Melo
Dizer de antemão quem será o vencedor do próximo 03 de outubro no segundo maior colégio eleitoral da Bahia é mínimo uma grande heresia, senão uma loucura. Porém todos os cidadãos que conheço, já sabem de antemão, e opinam sobre quem será de fato o próximo Chefe do Executivo Municipal, porque simplesmente todos são apaixonados de alguma forma por um nome, grupo ou mesmo partido político.
Para quem quiser fazer uma análise mais fria de antemão, ou mesmo cientificamente para alguns, Feira de Santana é uma verdadeira incógnita eleitoral em 2012. Quando se fizer a matemática dos fatos infere-se naturalmente em quatro nomes, que em seus entornos giram os mais diversos grupos políticos, bem como os mais variados projetos de poder no município.
Tem o ex-prefeito, José Ronaldo, que conseguiu aglutinar em torno de si vários grupos, lideranças e partidos políticos, embalsamado na condição de maior liderança do interior do Estado de sua agremiação partidária. Oriundo do mesmo projeto político de poder, mas agora brilhando sozinho na condição de Chefe do Executivo Municipal, tem Tarcísio Pimenta, que ungido nessa situação privilegiada, tem em torno de si os mais variados satélites políticos.
Com o mesmo brilho das estrelas que não são cadentes, tem o petista Zé Neto, que a qualidade e a condição de líder do Governo Estadual na Assembleia Legislativa, já são o bastante para qualquer bom entendedor saber qual é mesmo seu projeto, coordenando vários processos que somente os cegos políticos não conseguem enxergar. Do mesmo modo, apesar dos percalços da vida, mas ainda considerado pelos feirenses como uma reserva moral, tem o ex-deputado federal Colbert Martins, coordenando em torno de si movimentos silenciosos, mas para “olhos de lince” não consegue esconder.
Além desses grupos já consolidados na condição de se apresentarem como opção de projetos de poder para Feira de Santana, existe outros paralelos que vão naturalmente vão colocando-se na postura da negociação. Do mesmo modo, tem os vereadores do município e lideranças que não conseguiram uma vaga na Câmara de Vereadores em 2008, onde alguns no auge da capacidade de influenciar grupos colocam-se sempre como articuladores de processos políticos. Mas é bom lembrar que sozinho vereador nenhum tem a condição de eleger prefeito, pois eles que estão na casa da Cidadania, bem como aqueles outros que não conseguiram se eleger, não passaram de cinco mil votos, considerando poucas exceções.
O embate vai ser bom e é melhor os apaixonados trabalharem, pois na politica o maior mistério é não haver mistério algum, pois o maior deles é exatamente o eleitor feirense. Vamos prá frente, que a incógnita vem por aí!


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Um desabafo negro

Por Genaldo de Melo

Comemoramos no último 20 de novembro o Dia da Consciência Negra, porém considerando que todos os dias do ano devem ser naturalmente comemorados o valor dos povos afrodescentes, que foram os grandes responsáveis pela construção das riquezas do Brasil. País este formado predominantemente por populações negras.

Com esse fato devemos fazer uma profunda reflexão do que foi a escravidão no Brasil, se ela de fato acabou, bem como também passar um olhar mais profundo sobre os novos aspectos da escravidão moderna imprimida pelo poder econômico dos dominadores do Capital.

Precisamos não somente do dia 20 de novembro para relembrar nossas raízes africanas, deveremos o tempo todo repensar novas formas de consciência e de luta perante um inimigo que hoje consegue superar inclusive os métodos de escravizar pessoas do antigo Império Romano, que é o Capital. Com a queda deste Império acaba-se oficialmente a escravidão no mundo, apesar dela nunca ter deixado de existir, pois o Capital necessariamente sustenta-se da escravidão de seres humanos, subjugados ao interesses particulares de poucos.

Com a necessidade de manutenção de seu “status quo”, o Capital, diga-se os ricos de Portugal, Espanha e outros países que por estas terras pararam, calculadamente, segundo Celso Furtado, inventou de novo de modo oficial a escravidão negra. Quem eles escolheram para isso? O povo da África que viviam tranqüilos com seus valores culturais, religiosos e paradigmas, porém desarmados. E um homem ou mesmo um povo desarmado jamais enfrenta um carrasco “armado até os dentes”.

Quando a gente fala contra o Capital, às vezes ainda somos chamados de comedores de crianças indefesas. Quando a gente fala sobre a escravidão no Brasil e nas Américas, somos considerados os românticos adeptos da subversão do Oficial.  Quando a gente chama as pessoas para fazerem uma profunda reflexão no dia 20 de novembro, a gente precisa ter o cuidado, como se fossemos culpados de alguma coisa, para não sermos observados pelos 20% da população detentora do Capital, como negros metidos “a besta”, querendo formar opinião no vazio.

Porém o Dia da Consciência Negra e todos os dias do ano são mesmo para darmos nosso grito de liberdade, mesmo que seja apenas um, já que somos os novos escravos modernos da máquina do Capital. Quem foi mesmo que disse que hoje os negros são livres? Quem foi mesmo o falsário que conseguiu até os dias de hoje nos convencer que trabalhar de segunda-feira a sábado, e até mesmo em domingos e feriados, sem uma justa remuneração por nossa força de trabalho, seja a tão esperada liberdade de nossas raízes que vieram da África para aqui sofrer os horrores e a maldade da escravidão?

Ora, deixe-nos em paz para pensar como deve ser nossa liberdade, mesmo obedecendo aos rigores da lei, porque não somos anarquistas somos gente e somos povo! Foi o Capital que criou a escravidão, por necessidade nos libertou mentirosamente, e por necessidade criou os novos métodos de escravidão. Porém vamos aproveitar para também criar nossos métodos de nos libertar.

Consciência negra neles sempre, gente...!

A crise econômica e os dilemas da União Europeia

A classe trabalhadora, mais cedo ou mais tarde, buscará uma alternativa para a crise
  
Editorial da edição 455 do Brasil de Fato

Até a década de 1990, era comum nas análises econômicas encontrarmos o Japão, os EUA e a Europa caracterizados como o tripé da economia mundial. De fato, depois da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) os EUA emergiram como a principal potência capitalista do planeta. Ao mesmo tempo, para se contrapor à influência da URSS, os EUA contribuíram decisivamente para a recuperação econômica do Japão e da Europa arrasados pela guerra. Desde então, EUA, Japão e Europa se destacaram como o centro dinâmico do capitalismo.

A partir da década de 1970, o capitalismo adentrou, gradativamente, numa etapa de acumulação marcada pela hegemonia do capital financeiro, por constantes crises cíclicas de superprodução e baixas taxas de crescimento econômico. A economia japonesa está estagnada desde o início da década de 1990. A economia estadunidense, também estagnada, acumula seguidos déficits fiscais e altas taxas de desemprego. Agora, a crise econômica mundial castiga principalmente a Europa.

As projeções da Comissão Europeia (CE) para 2011 revelam que a taxa de desemprego na zona do Euro vai atingir os 10%. Um percentual considerado preocupante e com tendência de subir. A projeção para o presente ano é que o crescimento econômico da zona do Euro será mínimo, em torno de 1,5%. Prevê ainda que, em 2012, ocorra uma expansão na economia de 0,5%. Isso se tudo der certo, ou seja, se a União europeia conseguir manter sob controle a crise da dívida que ameaça afundar o Euro e aprofundar a crise econômica mundial. Diante desse nebuloso cenário em que se encontra o Velho Continente, podemos tirar algumas conclusões:

Estamos assistindo à dissolução da utopia liberal e capitalista que concebeu a construção da União Europeia. Ou seja, uma crise do projeto de integração econômica e política de uma Europa inclusiva e sem fronteiras. Predominou a velha desigualdade de riqueza e poder que sempre impulsionou os revanchismos, xenofobismos e rivalidades de um continente historicamente belicoso.

O atual endividamento dos Estados nacionais da Zona do Euro foi agravado, em grande parte, porque na crise de 2008 e 2009 esses países se endividaram para socorrer o setor privado: as corporações capitalistas e os grandes bancos.

A União Europeia entrou numa camisa de força ao estabelecer unidade monetária sem unidade fiscal. Secundarizou, portanto, a desigualdade entre as nações, algo inerente ao desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo. A atual crise da dívida gerou uma crise fiscal que é incompatível com a meta do euro forte e estável.

A União Europeia não orienta a Grécia e outros países a aplicar políticas anti-cíclicas baseadas no investimento produtivo para gerar demanda efetiva e, assim, potencializar o consumo dinamizando a economia. Insiste nas receitas ortodoxas neoliberais como recomenda o FMI. Outra expectativa do capital financeiro para minimizar a crise é que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) contribuam financeiramente para o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira. Os BRICS não concordaram. O governo brasileiro, corretamente, descartou essa possibilidade. A China, fundamental no xadrez geopolítico mundial, se mostrou reticente.

Existe um esforço por parte do mercado financeiro, dos grandes bancos e corporações para evitar a participação popular na solução da crise. É uma tentativa inútil, desautorizada pela história, de separar as contradições da economia da política de massas. Prova disso é o caso da Grécia. No momento em que se colocou a possibilidade de fazer um plebiscito para saber se a população concordava ou não com os termos do acordo de salvação financeira daquele país, ocorreu uma reação imediata e contrária à realização do plebiscito. É o mercado financeiro atentando contra a soberania dos Estados nacionais.

A solução institucional do “governo de união nacional” viabilizada na Grécia e, provavelmente, na Itália é uma tentativa do capital financeiro de legitimar os draconianos ajustes neoliberais. Ao mesmo tempo, esse tipo de governo tem uma tendência a frustrar as massas abrindo uma nova etapa de lutas sociais. Esse sentimento de frustração das massas europeias poderá ser potencializado por uma socialdemocracia sem projeto, frágil e descaracterizada ideologicamente. A classe trabalhadora, mais cedo ou mais tarde buscará uma alternativa para a crise. Esperamos que seja uma alternativa pela esquerda.

Tahrir, a praça política mais eficaz do mundo

A praça Tahrir, no centro do Cairo, sugere uma dessas rotatórias inóspitas,como tantas outras, destinadas a ordenar o fluxo do trânsito nas grandes metrópoles subdesenvolvidas, pouco ou nada pensadas para o convívio humano. Mas desde fevereiro deste ano, quando foi palco de 18 dias consecutivos de protestos gigantescos que derrubaram o ditador amigo das potências, Hosni Mubarak, a praça Tahrir ingressou definitivamente no panteão dos símbolos libertários do nosso tempo.

Na sua textura inóspita o povo egípcio plantou uma das mais vigorosas sementes da primavera política que sacode o norte africano e todo o Oriente Médio. Desde a última 6ª feira, a semeadura tem sido regada a sangue outra vez (
veja as cenas).

Novos confrontos, a partir de Tahrir, espalham-se por todo o país com um saldo devastador nas últimas 72 horas: 33 mortos pela repressão do Exército; 1.500 feridos e a renúncia do gabinete civil que desde a queda de Mubarak ordena a transição democrática, subordinado à mão dura militar.

A uma semana das eleições parlamentares, a sociedade egípcia está farta da tutela que pretende se sobrepor à nova institucionalidade, esvaziando-a na prática, a exemplo do que os mercados financeiros fazem com as democracias maduras de uma Europa em transe. No Egito, o definhamento opera pelo canal do adiamento das eleições presidenciais; na zona do euro, com a captura do Estado pela lógica financeiro, tornando ornamental a rotatividade do poder.

A principal singularidade egípcia está na eficácia das grandes mobilizações de massa. Armadas de alvos claros, cirúrgicos e avessos às tergiversações conservadoras --mas permeados de intensa capilaridade junto a organizações civis e partidos políticos, ao contrário do mito da 'revolução digital'-- , elas arremetem contra o despotismo de plantão com uma contundência pavorosa para os seus ocupantes. Foi assim que Tahrir derrubou Mubarak em 11 de fevereiro, após 18 dias de protestos que custaram 300 mortos e cinco mil feridos.

É assim que ela se volta agora contra o cabresto militar, unificando partidos e vozes em uma exigência clara, incontornável, de rápida aderência popular: fim da tutela --ou como se ouve em Tahrir, 'deixem-nos respirar; deixem-nos viver'. A articulação e a objetividade das jornadas nascidas na praça política mais eficaz do mundo talvez tenham algo a ensinar aos indignados do resto do planeta, ainda carentes da mesma habilidade para traduzir o descontentamento social em alvos progressivos, práticos, de precisão egípcia.

A Chevron não se preparou para enfrentar o vazamento

Editorial do Vermelho

O vazamento de petróleo num poço de petróleo da Chevron, no Campo de Frade, no litoral do Rio de Janeiro, iniciado em 7 de novembro, permite uma comparação entre as atitudes do governo brasileiro e a de outros governos na qual o Brasil sai bem no retrato, como se diz. E revela o despreparo de empresas que absolutizam o lucro e descuidam das regras de segurança.

A empresa responsável pelo desastre não é novata no ramo. É a norte-americana Chevron, atual nome da antiga Standard Oil, que opera no Brasil desde 1915 e, no passado, usava a marca Texaco. É a terceira maior petroleira do mundo e uma das tristemente célebres “sete irmãs” do petróleo, símbolo do imperialismo mais ganancioso e de uma história marcada pelo desrespeito e pela agressão à soberania e aos direitos dos povos.

Tudo indica que, no litoral fluminense, tenha tentado aplicar os velhos truques do imperialismo. Ela estava autorizada a perfurar ali até 3329 metros abaixo do nível do mar, mas usava uma broca capaz de chegar a 7600 metros, despertando a suspeita, na Polícia Federal, de tentar roubar o pré-sal, atingindo profundidades de exploração para as quais não fora autorizada no contrato de concessão assinado com o governo brasileiro. Suspeita que, se for comprovada, indicará uma grave quebra de contrato e a intenção de criar um fato consumado para chegar a um petróleo cobiçado mas cuja exploração é regida por regras especiais – o rico petróleo do pré-sal.

Todos os sinais são de que a empresa norte-americana cometeu ilegalidades graves que serão punidas com multas e podem chegar inclusive à proibição de continuar operando no Brasil.

A primeira foi o descumprimento das obrigações que assumiu ao assinar o contrato de concessão : a empresa, diz a ANP, não tinha equipamentos adequados para estancar um vazamento, atuando portando em desacordo com a legislação brasileira. “Eles não estavam preparados”, explicou o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima; “não tinham equipamentos para o plano que eles próprios propuseram”.

Outra ilegalidade foi a tentativa de minimizar o vazamento. Seus diretores, acusa a ANP, tentaram esconder informações importantes e fotos do vazamento, para ocultar a verdadeira extensão do desastre. Segundo a ANP, vazaram, durante mais de uma semana, acima de 2.700 barris, mas a Chevron admitia muito menos: 650. Na segunda feira (21), diante das evidências, ela corrigiu sua “avaliação”. Além das duas multas, há uma terceira em estudo.

A Polícia Federal acusa também a Chevron de tentar esconder o petróleo vazado empurrando-o para o mar usando jatos de areia de alta pressão. Essa técnica é proibida no Brasil pois dispersa pelo oceano o petróleo vazado que deve ser recolhido. Jatear é um procedimento mais barato, daí a preferência por este método que permite fugir dos altos custos da limpeza com o uso de uma técnica ambientalmente mais correta.

A investigação vai avaliar se houve erro deliberado ou má-fé, e não vai “passar a mão na cabeça”, disse Haroldo Lima. A Transocean – terceirizada pela Chevron para perfurar o poço, e envolvida no desastre  do Golfo do México, em abril de 2010 – também será multada e pode ser proibida de atuar no Brasil. O governo do Rio de Janeiro já anunciou que vai cassar sua licença de funcionamento no estado, por imperícia e descumprimento da legislação ambiental. Para coroar este roteiro que confronta a legislação brasileira, a Chevron também é suspeita de ter trazido para atuar em suas perfurações funcionários estrangeiros sem autorização para trabalhar no país, denúncia que está sendo investigada pela Polícia Federal.

A diferença marcante na comparação entre o vazamento da Chevron no litoral fluminense e o ocorrido no Golfo do México, em abril de 2010, foi a rapidez da resposta do governo brasileiro e a pronta ação da ANP para exigir a tomada de providências pelos responsáveis pelo desastre.

Elas contrastam com a lerda resposta do presidente Barack Obama. Lá, o desastre ocorreu em 20 de abril de 2010 e matou onze trabalhadores. Mesmo assim, foi só um mês depois, em 18 de maio, que seu governo nomeou uma comissão para apurar as responsabilidades. Aquele acidente revelou a escandalosa cumplicidade entre os executivos das empresas petroleiras e a agência norte-americana que controla o petróleo – a ANP deles. A subserviência da agência empresas era tamanha que o diário The New York Times condenou, em editorial, a corrução e a ineficiência do governo em controlar os desmandos das empresas cuja atuação deveria fiscalizar.

No Brasil ocorre o contrário. A presidente da República, Dilma Rousseff, determinou a "rigorosa apuração" assim que tomou conhecimento do ocorrido, e a ANP agiu com presteza semelhante e imediatamente pôs seu corpo técnico a campo para apurar as responsabilidades.

Essa ação desmente comentaristas apressados que, na mídia dos patrões, acusam o país de não ter um plano para enfrentar desastres desse tipo. O que fica claro, no episódio, é o despreparo das petroleiras estrangeiras, e não das autoridades e técnicos brasileiros.

O Brasil e a arma hipersônica dos EUA

Por Mauro Santayana, em seu blog:

O fato de os Estados Unidos, mesmo em crise econômica e política - com milhares de pessoas ocupando as ruas para protestar contra o sistema - terem anunciado o sucesso, há três dias, do vôo de teste, entre o Havaí e as Ilhas Marshall, de uma nova bomba voadora, de velocidade supersônica, capaz de atingir qualquer ponto do globo em menos de uma hora, tem que servir de alerta para o Brasil e para os BRICS.

Enquanto investimos bilhões na compra de equipamento e tecnologia militar obsoleta, como os submarinos Scorpéne e, eventualmente, o Rafale, desenvolvidos há mais de 30 anos, os Estados Unidos não cessam de pesquisar novas armas de destruição em massa, e sistemas de armamento naval como o canhão magnético de munição cinética, anunciado no ano passado, que não depende de combustível para atingir alvos a uma distância de 300 quilômetros.

Isso, apesar de Washington ter um déficit de 7 trilhões de dólares, boa parte dele derivado dos 35 bilhões de dólares que gasta, por semana, para manter seus soldados no Iraque e no Afeganistão, países dos quais já prepara a retirada de suas tropas convencionais - com o rabo entre as pernas - a partir do ano que vem.

A insistência de os Estados Unidos em continuarem se armando, mesmo em uma situação de crise econômica e institucional crescente, aponta para a cristalização de uma perigosa equação, que, do ponto de vista do resto do mundo – excetuando-se a Europa, cada vez mais submissa aos interesses norte-americanos - equivale a um mendigo louco com uma arma na mão na praça de alimentação de um Shopping, ou, à velha metáfora, mais usada antigamente, de um macaco solto em uma loja de louças.

Como a história mostrou nos anos do equilíbrio do terror da Guerra Fria, quando os EUA não ousariam invadir países como o Iraque e o Afeganistão, sem a aquiescência tácita da URSS, de nada adianta construir uma nova ordem multipolar, se o poder no mundo continuar obedecendo a uma situação unipolar do ponto de vista militar.

O BRICS tem se erguido, nos últimos anos, na economia e na diplomacia, justamente para fazer frente à Europa e aos Estados Unidos, porque o mundo não pode continuar refém, como tem acontecido, das decisões que são tomadas em uma Europa e em uma América do Norte cada vez mais frágeis, no âmbito político-institucional, e cada vez mais decadentes, do ponto de vista econômico.

Nada disso funcionará, no entanto, se a projeção do crescente poder do BRICS não se fizer, também, na área militar. Não dá para se pensar em uma estratégia de defesa viável, no futuro, se não juntarmos nossos recursos financeiros e tecnológicos, nosso conhecimento e nossos pesquisadores militares aos da Rússia, da China, da Índia e da África do Sul para o desenvolvimento de uma nova geração de armamentos que vá, como está ocorrendo com os Estados Unidos, um pouco além do armamento convencional hoje existente.

Não se pode confiar nem cooperar com os países ocidentais nessa área. Eles só nos vêem como “parceiros” da hora dos coquetéis de seus adidos militares, ou no quando tem interesse de nos vender material obsoleto para utilizar o lucro no desenvolvimento de novas gerações de armamentos. Quando chega o momento de a onça beber água, eles se aliam entre si, e nos vêem como sempre nos viram, como um bando de subdesenvolvidos. Que o diga a Argentina, que até hoje não esqueceu as lições que aprendeu quando precisou de armamento para reposição na Guerra das Malvinas.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Os novos soldados do capitalismo

Por Antonio Martins, no sítio Outras Palavras:

Na madrugada de terça-feira, durante o assalto ao acampamento do Occupy Wall Street,a polícia de Nova York adotou métodos primitivos. A entrada da imprensa na área da operação polícial foi vetada. Ydanis Rodriguez, um membro do parlamento local, foi agredido e preso, quando tentava encontrar-se com os manifestantes. Houve mais 200 prisões, uso generalizado de gás pimenta e golpes de cassetete. Uma biblioteca de 5 mil livros foi atirada a um contêiner de lixo.

Mas estas cenas de brutalidade são apenas um aspecto menor da operação. Notícias publicadas ontem (15/11) nos jornais norte-americanos, e análises de mais fôlego na imprensa alternativa, revelam algo mais grave. Articulou-se nas últimas semanas, nos Estados Unidos, um esforço policial coordenado, com objetivo de suprimir um movimento que, embora tenha sempre agido de modo pacífico, passou a ser encarado como uma ameaça ao status quo. A investida contra o Occupy reflete a militarização das forças de segurança dos EUA, cada vez mais voltadas a identificar e combater “inimigos internos” — e equipadas com sofisticado armamento “high-tech” contra eles.

Embora a decisão de desocupar praças caiba, institucionalmente, aos prefeitos, a ação policial está sendo tramada nacionalmente. Mais de 40 chefes de polícia das cidades em que o Occupy montou acampamentos mantiveram reuniões constantes nas últimas semanas, muitas vezes por meio de videoconferências. O objetivo dos encontros foi trocar informações sobre as formas mais eficazes de promover a desocupação. Pretende-se evitar, sobretudo, episódios constrangedores para as forças da ordem, nos quais a resistência pacífica as obriga a recuar.

O planejamento foi especialmente meticuloso contra o Occupy Wall Street, revelou o New York Times. Houve duas semanas de treinamento, mas os policiais envolvidos não foram informados, em nenhum momento, sobre o alvo e as circunstâncias de sua futura ação. Temia-se a mobilização social. Uma tentativa anterior de esvaziar o acampamento, em 14 de outubro, fracassou porque, informados previamente, os manifestantes conseguiram convocar apoio.

O último treinamento foi feito na noite de segunda-feira, 14/11. Mesmo então, segundo o jornal, não se mencionou o Zucotti Park — ou Praça da Liberdade, como foi rebatizada pelos acampados. Na convocação dos policiais falou-se apenas em “um exercício”. A decisão atacar o Occupy foi comunicada “apenas no último momento”.

Centenas de agentes foram mobilizados. O momento da operação foi escolhido meticulosamente. Sabia-se, depois de semanas de observação, que na madrugada de segunda para terça-feita o acampamento estaria mais vazio. O parque foi isolado por barreiras de policiais armados com escudos. No momento da desocupação, não era aproximar-se a menos de cem metros do local. Os jornalistas que já estavam na área foram retirados: a polícia alegou que desejava proteger sua “segurança”.

Que leva a polícia de um país que se orgulha de respeitar as liberdades civis a se voltar para a repressão contra protestos pacíficos? Num texto publicado também ontem, no siteAlternet, Heather “Digby” Parton, uma blogueira norte-americana premiada pela profundidade de suas análises (publicadas costumeiramente em Hullabaloo) , procura as respostas. Ela as encontra, principalmente, no que vê como três décadas de militarização das forças policiais norte-americanas. Primeiro, para enfrentar a chamada “guerra contra as drogas”; mais tarde (a partir do 11 de setembro), para a vigilância interna, adotada a pretexto da “guerra contra o terror”.

Desde 1980, reporta “Digby”, a polícia norte-americana tem sido preparada para assumir um número crescente de atividades de caráter mais tipicamente militar. Esta mudança se expressa em aspectos como o armamento e os uniformes policiais. Equipamentos como os fuzis M-16 e veículos blindados tornaram-se comuns – inclusive em unidades instaladas nos câmpus universitários.

A partir de 2001, esta tendência assumiu nova dimensão. As forças policiais foram envolvidas na vasta operação do governo Bush para ampliar a vigilância sobre os cidadãos. A lei “Patriot Act”, até hoje em vigor, permitiu violar o sigilo de comunicação e rastrear as operações financeiras. Criado na época, o Departamento de Segurança Interior (Department of Homeland Security) passou a coordenar as ações de espionagem interna. Tornou-se, rapidamente, a terceira maior agência estatal dos EUA. Tem orçamento anual de 55 bilhões de dólares. Horas após o ataque contra Occupy Wall Street, o cineasta Michael Moore lançava, pelo twitter, uma questão ainda não respondida: terá o departamento participado da operação contra os manifestantes?

Ainda mais importante, introduziu o conceito de “terrorismo doméstico”, orientando as forças da ordem não apenas contra os crimes tradicionais — mas contra um leque amplo e impreciso de atividades, que pode facilmente incluir a oposição política. As consequências foram explicitadas em 2006 por Joseph McNamara, ex-chefe de polícia de San Jose. Ele afirmou que, o novo cenário havia produzido “uma ênfase em treinamento paramilitar, que, em contraste com a antiga cultura, sobrepõe-se ao treinamento policial — segundo o qual, os policiais não deveriam atirar, exceto para se defender”.

Um dos aspectos mais controversos da nova postura foi a utilização costumeira de armas consideradas “menos-letais”. Digby conta que os teasers (que produzem choques elétricos e podem, em certas circunstâncias, matar) são apenas a ponta de iceberg de um vasto arsenal — utilizado, por enquanto, apenas em situações de treinamento. Ele é inteiramente voltado para a dispersão de protestos. Inclui, por exemplo, o ray gun,Posicionado no alto de um veículo e disparado contra uma manifestação, ele produz, nos que estão à frente, a sensação de um “soco invisível”, que provoca intensa dor e impede de continuar caminhando. Sintomaticamente, foi testado, em exercícios na Geórgia, contra soldados vestidos de manifestantes que portavam cartazes com dizeres como “Paz Mundial”, “Amor para todos” e “Paz, guerra não!”.

Ainda mais espantosos são os planos para desenvolver armas como teasers com alcance de cem metros ou, mesmo, aviões não-tripulados (“drones”), capazes de criar grandes “áreas de exclusão”, ao bombardeá-las com dardos virtuais que produzem choques elétricos. (Para descrição das armas, Digby baseou-se numa extensa reportagem de Ando Arike, publicada na revista Harper’s e disponível aqui, em versão pdf).

Ao final de seu texto, Digby debate uma questão política crucial. A militarização da polícia foi impulsionada no período imediatamente posterior aos ataques de 11 de Setembro. Na época, o choque provocado pelo terror e a onda de patriotismo que se seguiu garantiram amplo consenso social em favor das medidas de vigilância. O secretário de Defesa (e depois vice-presidente) Dick Cheney chegou a afirmar que “o Estado precisa tirar suas luvas”.

Este tempo passou. Numa época em que o terrorismo deixou de ser uma ameaça visível e crescem, em contrapartida, os protestos contra a desigualdade, o desemprego e o esvaziamento da democracia, qual será a conduta das forças policiais agora orientadas também contra alvos que podem incluir a dissidência civil, e dotadas de novo armamento? Como elas agirão, se os novos movimentos recusarem-se a receber ordens — que julgam ilegítimas — para refrear seus protestos?

As respostas estão em aberto. O que ocorreu em Nova York em 15/11 não é uma fatalidade, mas serve de alerta. Se a construção de uma sociedade mais justa inclui manter e ampliar as liberdades civis, então será preciso conhecer em profundidade, denunciar e reverter esta nova ameaça de desconstrução da democracia.

Entre a direita e a direita

A Espanha, nas eleições de domingo, está entre a direita e a direita. Por mais o PSOE busque recuperar o discurso, seus porta-vozes de hoje estão afônicos. Mas a Espanha não é um caso isolado. A esquerda está nas ruas, com os indignados do mundo inteiro, mas sem líderes, sem projetos e sem programas.

 

Nos meses fervilhantes de 1963, que antecederam o golpe militar, eu subia, com os professores de direito e homens públicos Edgard da Matta Machado e Alberto Deodato, a Rua da Bahia, eixo político e social de Belo Horizonte. Deodato, sergipano, que vivia em Minas desde moço, era advogado de latifundiários, assumia a sua posição de direita e convivia, com amabilidade, com pessoas de esquerda, como éramos Edgard e eu. De repente, ele, bem humorado, parou e comentou que contrariava a lógica e a física: como caminhava entre nós dois, estava entre a esquerda e a esquerda.

A Espanha, nas eleições de domingo, está entre a direita e a direita. Por mais o PSOE busque recuperar o discurso, seus porta-vozes de hoje estão afônicos: os sonhos de Pablo Iglesias, o fundador do socialismo espanhol, foram varridos pela timidez de Zapatero e seu grupo. Mas a Espanha não é um caso isolado. A esquerda está nas ruas, com os indignados do mundo inteiro, mas sem líderes, sem projetos e sem programas. Mesmo que os indignados espanhóis quisessem, não teriam em quem votar. Em seu desconsolo, tanto faz sufragar Rubacalba quanto Rajoy. Por isso mesmo espera-se a vitória do conservador, por ser uma alternativa ao que já se conhece.

O bipartidarismo de fato, que muitos admiram e querem, fecha o passo a terceiras idéias e novas personalidades. Desde a eleição de Felipe González que os socialistas buscam o acomodamento na Espanha. Naquele momento, a tática da moderação era necessária. É de se recordar que, nos debates no Parlamento, para a aprovação do nome do então jovem advogado andaluz como chefe de governo, em outubro de 1982, o chefe de fila da direita, Manuel Fraga Iribarne, comentou que Felipe aparecia na arena como un toro afeitado, ou seja, um touro com os chifres serrados, com discurso apaziguador. Mas Fraga advertiu que fora um touro de chifres aparados que matara o famoso toureiro Manolete em 1947, em Liñares.

Felipe foi um bom governante, na garantia das liberdades públicas, mas se manteve tímido na frente econômica, sem avançar sobre os Acordos de Moncloa, negociados pelo seu predecessor Adolfo Suarez. Os endinheirados, que vinham de Franco, mesmo que hajam cedido um pouco, continuaram governando de fato o país, mediante os bancos e as grandes corporações.

Essa falta de ousadia e outros equívocos levaram a direita a tomar o poder, em 1996, com Aznar, saudoso do franquismo e vassalo fiel de Washington. Ele ficou famoso pelo seu atrevimento ao tratar a América Espanhola como nos séculos 16 e 17, quando no auge do Império colonial.

Como é sabido, Aznar chegou a telefonar para o presidente argentino Eduardo Zuhalde, ordenando-lhe, com grosseria, que acatasse as exigências do FMI.

Zapatero começou com algumas esperanças, ao reduzir a submissão a Washington, ao retirar o grosso de suas tropas do Iraque, mas, pouco a pouco, foi aceitando as pressões, internas e externas, associando-se aos banqueiros e às corporações empresariais.

Desviando recursos recebidos da União Européia, financiou a compra de empresas estatais e privatizadas na América Latina – incluído o Brasil – em continuação à política neoliberal da direita. Com isso, ao não usar os recursos no próprio país, contribuiu para a grave crise econômica atual. A um sucedâneo da direita, que era o seu governo, os eleitores indecisos preferem o original, e votam agora em Rajoy. O mesmo fenômeno pode ocorrer na Europa, nos poucos países em que governos de centro e centro esquerda detêm o poder.

Mas muitos dos desiludidos dos partidos tradicionais, que agravaram a situação de desemprego, vão mais à direita e procuram os partidos racistas como alternativa. Há, assim, a rearticulação dos nazistas e fascistas, com seu ódio contra os estrangeiros, como ocorreu há dias na grande manifestação da ultra-direita em Varsóvia. O massacre da Noruega é uma séria advertência que os governantes estão desprezando.

Há, no entanto, duas possibilidades de que o centro-esquerda ganhe os pleitos futuros: a França, desanimada de Sarkozy e de seus crimes na Líbia; e a Alemanha de Angela Merkel, cuja política, ainda que bem sucedida em termos econômicos, dá sinais de fadiga.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Vamos aumentar o número de Vereadores em Feira de Santana!

Por Genaldo de Melo

Alguns formadores de opinião feirenses não concordam com meu ponto de vista, que é também opinião de muita gente de bom senso e juízo na cabeça. Acho que não cabe num município que congrega segundo dados do IBGE quase 600 mil habitantes, e que sabemos que é bem mais que isso, pois Feira de Santana recebe muita gente do seu entorno que acaba por pertencer aos dados populacionais de outros municípios, ter uma Câmara de Vereadores com apenas 21 cadeiras. Feira de Santana hoje é sede de uma importante região metropolitana, segundo maior colégio eleitoral da Bahia, maior entroncamento rodoviário do interior do Norte-Nordeste do país, maior que 08 capitais brasileiras, portanto o discurso de que não pode aumentar o número de vereadores é naturalmente um discurso anacrônico, e considero também revestido de ignorância cultural.

O município de Itabuna com apenas um terço da população feirense tem como representantes dos mais dos diversos setores da sociedade 21 vereadores. Vitória da Conquista com metade de nossa população também decidiu que o número de representantes que propõem políticas e fiscalizam o Poder Executivo deve ser de 21 vereadores também. Pois bem, por que somente Feira de Santana com toda sua grandiosidade populacional, e município também bem situado do ponto econômico no nosso Estado não deve aumentar a Câmara de Vereadores? Defender a tese de que aumentar o número de representantes da Casa da Cidadania feirense vai aumentar os gastos públicos com os novos representantes é um discurso pautado na inviabilidade de ideias, porque não vi em nenhum momento alguém mudar as regras constitucionais para aumentar o valor de repasse do Duodécimo para a realização de trabalhos do Parlamento.

Poderia aproveitar esse espaço de opinião para defender a tese contrária, caso entendesse que com aumento de cadeiras na Casa da Cidadania obrigasse o município a aumentar o Duodécimo. Mas não é esse o caso que estamos discutindo, o estamos falando é que a sociedade de Feira de Santana precisa aumentar o número de representantes no Legislativo, para que haja de fato mais representantes sérios e não grupinhos de vereadores que perde o tempo de trabalho para brigarem no Plenário. O precisa ser feito de fato é diminuir mordomias e gastos impróprios de gabinetes que muitas vezes não funcionam como deveriam para representar os interesses do povo.

Parece que a maior parte dos vereadores feirenses tem aversão a diminuição de recursos para seus gabinetes, e também acham que já estão eleitos de novo. A eleição acontece somente em outubro de 2012 e o povo não está tão bobo como pensam, e na sua grande maioria através das vozes das ruas não são contrário a proposta que não foi aprovada para aumentar o número de vereadores. Aumentar a representação na Câmara de Vereadores é aumentar a capacidade de pensar nosso município com vistas ao crescimento socioeconômico.

Que diminua então as mordomias dos gabinetes e os salários dos vereadores, ora...! Mas que Feira de Santana tenha mais representação, mais líderes pensando pelo povo, bem como mais partidos políticos com seus programas em função da sociedade feirense.

Fidel Castro: Cinismo genocida (Segunda e última parte)

Para dar una ideia do potencial da URSS en seus esforços parar manter a paridade com os Estados Unidos nesta esfera, basta assinalar que quando se produziu sua desintegração em 1991, na Bielorrúsia havia 81 ogivas nucleares, no Cazaquistão 1.400 e na Ucrânia aproximadamente 5 mil, as quais passaram à Federação Russa, único Estado capaz de sustentar seu imenso custo, para manter a independência.

Por Fidel Castro

Em virtude dos tratados Start e Sort sobre a redução de armas ofensivas assinados entre as duas grandes potências nucleares, o número destas se reduziu a vários milhares.

Em 2010 foi assinado um novo Tratado deste tipo entre ambas as potências.

Desde então os maiores esforços foram consagrados ao aperfeiçoamento dos meios de direção, alcance, precisão e engano da defesa adversária. Imensas cifras são investidas na esfera militar.

Muito poucos no mundo, salvo raros pensadores e cientistas, se dão conta e advertem de que bastaria a explosão de 100 armas nucleares estratégicas para pôr fim à existência humana no planeta. A imensa maioria teria um fim tão inexorável como horrível em consequência do inverno nuclear que seria gerado.

O número de países que possuem armas nucleares neste momento se eleva a oito, cinco deles são membros do Conselho de Segurança: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, e China. Índia e Paquistão adquiriram o caráter de países possuidores de armas nucleares em 1974 e 1998 respectivamente. Os sete mencionados reconhecem esse caráter.

Israel, ao invés, nunca reconheceu seu caráter de país nuclear. Contudo, calcula-se que possui entre 200 e 500 armas desse tipo, ficando indiferente quando o mundo se inquieta pelos gravíssimos problemas que ocorreriam em decorrência da eclosão de uma guerra na região onde se produz grande parte da energia que move a indústria e a agricultura do planeta.

Graças à posse das armas de destruição em massa é que Israel pôde desempenhar seu papel como instrumento do imperialismo e do colonialismo nessa região do Oriente Medio.

Não se trata do direito legítimo do povo israelense a viver e trabalhar em paz e liberdade, se trata precisamente do direito dos demais povos da região à liberdade e à paz.

Enquanto Israel criava aceleradamente um arsenal nuclear, atacou e destruiu, em 1981, o reator nuclear iraquiano em Osirak. Fez exatamente o mesmo com o reator sírio em Dayr az-Zawr no ano de 2007, um fato sobre o qual estranhamente a opinião pública mundial não foi informada. As Nações Unidas e a AIEA conheciam perfeitamente o ocorrido. Tais ações contavam com o apoio dos Estados Unidos e da Aliança Atlântica.

Nada tem de estranho que as mais altas autoridades de Israel proclamem agora sua intenção de fazer o mesmo com o Irã. Esse país, imensamente rico em petróleo e gás, tinha sido vítima das conspirações da Grã Bretanha e dos Estados Unidos, cujas empresas petrolíferas saqueavam seus recursos. Suas forças armadas foram equipadas com o armamento mais moderno da indústria bélica dos Estados Unidos.

O Xá Reza Pahlevi também aspirava a dotar-se de armas nucleares. Ninguém atacava seus centros de pesquisas. A guerra de Israel era contra os muçulmanos árabes. Os do Irã não, porque tinham se transformado em um baluarte da Otan que apontava suas armas para o coração da URSS.

As massas dessa nação, profundamente religiosas, sob a direção do Aiatolá Komeini, desafiando o poder daquelas armas, desalojaram o Xá do trono e desarmaram um dos exércitos melhor equipados do mundo sem disparar un tiro.

Por sua capacidade de luta, o número de habitantes e a extensão do país, uma agressão ao Irã não guarda semelhança com as aventuras bélicas de Israel no Iraque e na Síria. Uma sangrenta guerra se desencadearia inevitavelmente. Sobre isso não debe haver nenhuma dúvida.

Israel dispõe de um elevado número de armas nucleares e da capacidade de fazê-las chegar a qualquer ponto da Europa, Ásia, África e Oceania. Eu me pergunto: A AIEA tem o direito moral de sancionar e asfixiar um país se tenta fazer em sua própria defesa o que Israel fez no coração do Oriente Médio?

Penso realmente que nenhum país do mundo deve possuir armas nucleares e que essa energia debe ser posta a serviço da espécie humana. Sem esse espírito de cooperação a humanidade marcha inexoravelmente para sua própria destruição. Entre os próprios cidadãos de Israel, um povo sem dúvida laborioso e inteligente, muitos não estarão de acordo com essa disparatada e absurda política que também os leva ao desastre total.

Do que se fala hoje no mundo sobre a situação econômica?

As agências internacionais de noticias informam que "O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e seu par chinês, Hu Jintao, apresentaram agendas comerciais divergentes […] ressaltando as crescentes tensões entre as duas maiores economias do mundo."

"Obama usou seu discurso ― afirma a agência Reuters ― para ameaçar a China com sanções econômicas, a menos que comece a ‘jogar segundo as regras do jogo’…". Tais regras são, sem dúvida, os interesses dos Estados Unidos.

"Obama ― afirma a agência ― está envolvido na batalha pela reeleição no próximo ano e seus opositores republicanos o acusam de não ser suficientemente severo com a China."

As noticias publicadas na quinta-feira e sexta-feira últimas refletiam muito melhor as realidades que estamos vivendo.

A agência estadunidense AP, a melhor informada desse país, comunicou: "O líder supremo iraniano advertiu os Estados Unidos e Israel de que a resposta do Irã será enérgica se seus arqui-inimigos lançarem um ataque militar ao Irã…"

A agência noticiosa alemã informou que a China tinha declarado que como sempre acreditava que o diálogo e a cooperação era a única forma de aproximação ativa para resolver o problema.

A Rússia se opôs igualmente às medidas punitivas contra o Irã.
A Alemanha rechaçou a opção militar mas se mostrou partidária de fortes sanções contra o Irã.

O Reino Unido e a França defendem fortes e enérgicas sanções.

A Federação Russa assegurou que fará todo o possível para evitar uma operação militar contra o Irã e criticou o informe da AIEA.

"‘Uma operação militar contra o Irã pode acarretar graves consequências e a Rússia terá que fazer tudo de sua parte para aplacar os ânimos’, afirmou Contantín Cosacov, chefe da comissão de Relações Exteriores da Duma" (Parlamento) e criticou, segundo a agência Efe, "as afirmações por parte dos Estados Unidos, França e Israel sobre o possível uso da força e de que o lançamento de uma operação militar contra o Irã está cada vez mais próxima".

O editor da revista estadunidense Executive Intelligence Review, Edward Spannaus, declarou que o ataque contra o Irã terminará na 3ª Guerra Mundial.

O próprio secretário da Defesa dos Estados Unidos, depois de viajar a Israel há alguns dias, reconheceu que não pôde obter do governo israelense um compromisso de se consultar previamente com os Estados Unidos sobre um ataque contra o Irã. Chegou-se a esses extremos.

O sub-secretário de Assuntos Políticos e Militares dos Estados Unidos desvelou cruamente os obscuros propósitos do império:

"Israel e Estados Unidos se envolverão nas manobras conjuntas ‘mais importantes’ e ‘de maior transcendência’ da historia dos aliados, declarou no sábado (12) Andrew Shapiro, sub-secretário de Assuntos Políticos e Militares dos Estados Unidos".

"…no […] Instituto Washington para a Política do Oriente Médio, Shapiro anunciou que participarão nas manobras mais de 5 mil efetivos das forças armadas estadunidenses e israelenses e simularão a defesa de mísseis balísticos de Israel".

"‘A tecnologia israelense é essencial para melhorar nossa segurança nacional e proteger nossas tropas’, agregou…"

"Shapiro destacou o apoio do governo de Obama a Israel apesar dos comentários da sexta-feira por parte de um alto funcionário estadunidense que expressou sua preocupação de que Israel não avisase os Estados Unidos antes de levar a cabo uma ação militar contra as instalações nucleares do Irã."

"Nossa relação com a segurança de Israel é mais ampla, mais profunda e mais intensa do que nunca antes."

"‘Apoiamos Israel porque é de nosso interesse nacional fazê-lo’ […] É a pura força militar de Israel o que dissuade os possíveis agressores e ajuda a fomentar a paz e a estabilidade."

Hoje, 13 de novembro a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, disse à rede BBC que a possibilidade de uma intervenção militar no Irã não só não está fora da mesa, mas é uma opção real que está crescendo por culpa do comportamento iraniano.

Ele insistiu em que a administração norte-americana está chegando à conclusão de que será necessário acabar com o atual regime do Irã para evitar que este crie um arsenal nuclear. "Estou convencida de que a mudança de regime vai ser a nossa única opção aqui", reconheceu Rice.

Não é necessário nem uma palavra mais.

Fidel Castro Ruz
13 de novembro de 2011
20h17
Fonte:
CubadebateTradução: Redação do Vermelho

Trabalhadores/as rurais de Eunápolis enfrentam mais uma vez o desafio de se organizarem

Por Genaldo de Melo

Mais uma vez o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Florestais e Silvícolas de Eunápolis demonstra sua capacidade de ser inovador no seio do Movimento Sindical dos Trabalhadores/as Rurais na Bahia. Como sempre fez seu planejamento estratégico para desenvolver o trabalho sindical pautado na seriedade e na competência comprovada, dessa vez resolveu fazer tal fato antes da constituição da Previsão Orçamentária. Assim, procura cumprir seu papel de instituição séria, e que cumpre seus Estatutos Sociais, bem como servir de exemplo para as demais entidades da Sociedade Civil Organizada.

Nos últimos dias 10 e 11 de novembro toda Diretoria Plena participou do Seminário de Planejamento Estratégico da organização. Juntos construíram a Missão e Visão de Futuro do Sindicato, definiram os objetivos e as ações estratégicas, bem como as atividades do cotidiano sindical. A Missão da Entidade foi definida como “apoiar o desenvolvimento pessoal, social, cultural e econômico dos trabalhadores/as rurais, florestais e silvícolas de Eunápolis”, e do mesmo modo foi definido como Visão da Entidade “Consolidar o Sindicato como a mais importante entidade do campo no Extremo Sul e ser reconhecida politicamente em todo Estado da Bahia”.

Os presentes definiram três grandes objetivos estratégicos da Entidade. O primeiro “contribuir com processos de inclusão social e Cidadania Ativa”; o segundo “apoiar processos de fortalecimento da Agricultura Familiar, à luta do assalariamento no campo, pela Reforma Agrária, e pelo meio ambiente”; e terceiro “organizar a estrutura administrativa, política e financeira da Entidade”. Do mesmo modo, foram definidas dentro dos objetivos nove ações estratégicas, bem como foi projetado para serem realizadas em 2012 diversas atividades sistemáticas e pontuais.

O evento teve assessoria da assessoria da FETAG-BA e da CTB-Bahia, através de Genaldo de Melo. Segundo Ailton Lisboa, presidente do Sindicato “o planejamento da entidade é uma das principais ações propriamente dita, porque define as diretrizes políticas e administrativas, enfrentando o dinamismo e espontaneismo sindical, já que representamos uma grande parcela da sociedade eunapolitana e temos responsabilidade para produzir os resultados que os sócios e a categoria esperam do sindicato”.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Aprender

Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
 E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos
e presentes não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida
 e olhos adiante, com a graça de um adulto e
não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
 porque o terreno do amanhã é incerto demais para os
 planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o
sol queima se ficar exposto por muito tempo.
 E aprende que não importa o quanto você se importe,
algumas pessoas simplesmente não se importam...
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,
 ela vai feri-lo de vez em quando e você
precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para se construir confiança
e apenas segundos para destrui-la, e que você
pode fazer coisas em um instante, das quais se
arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a
crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida,
mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família
que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos
se compreendemos que os amigos mudam,
percebe que seu melhor amigo e você podem fazer
qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se
importa na vida são tomadas de você muito depressa,
por isso sempre devemos deixar as pessoas
que amamos com palavras amorosas,
pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes
têm influência sobre nós, mas nós somos
responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar
com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a
pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou,
mas onde está indo, mas se você não sabe
para onde está indo, qualquer lugar serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o
controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco
ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada
e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era
necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você
espera que o chute quando você cai é uma das
poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os  tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais 
em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma
criança que sonhos são bobagens.
Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma
 tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de
estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
 Descobre que só porque alguém não o ama do
jeito que você quer que ame, não significa que
esse alguém não o ama com tudo o que pode,
pois existem pessoas que nos amam, mas
simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser
perdoado  por alguém, algumas vezes você tem
que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga,
você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos
pedaços seu coração foi partido,
o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é
algo que possa voltar para trás.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma,
 ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
 E você aprende que realmente pode suportar...
que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe
depois de pensar que não se pode mais.
Aprende que nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar,
se não fosse o medo de tentar.
E que realmente a vida tem valor e que
VOCÊ tem valor diante da vida!

William Shakespeare

Berlusconi caiu. A direita chora!

Por Altamiro Borges

Em entrevista nesta terça-feira (8), o presidente italiano Giorgio Napolitano informou que o premiê Silvio Berlusconi renunciará já na próxima semana, após a votação final do “pacote de austeridade” do seu governo ultraconservador. O anúncio foi feito logo após o bravateiro fascistóide perder a maioria numa importante votação do parlamento da Itália.


A queda de Berlusconi representa um duro golpe na direita italiana e pode ter reflexos na Europa. Juntamente com Angela Merkel (Alemanha) e Nicolas Sarkozy (França), o primeiro-ministro italiano liderou a guinada neoliberal no velho continente, acelerando o desmonte do estado de bem-estar social e reforçando os laços de servilismo com os EUA nas suas políticas imperialistas.

Expressão grotesca do poder midiático

Silvio Berlusconi é a expressão grotesca do poder midiático na atualidade. Dono de um império de comunicação, ele foi eleito três vezes primeiro-ministro da Itália (1994-1995, 2001-2006, 2008-2011). Durante este longo período, ele sofreu 17 processos na Justiça por desvio de recursos públicos, fraude fiscal, suborno, evasão de divisas e escândalos sexuais – inclusive pedofilia.

A blindagem da mídia, tão seletiva na Itália como no Brasil, garantiu a sobrevivência política e as vitórias eleitorais de Berlusconi. O patético ricaço – a revista Forbes o classificou como a segunda pessoa mais rica da Itália e o 74º homem mais rico da Europa, com fortuna estimada em US$ 9 bilhões – sempre foi funcional para a avarenta burguesia italiana. Por isso, ele durou tanto tempo.

Crise econômica e auditoria do FMI

A grave crise que atinge a Itália, porém, precipitou seu fim. Na semana passada, durante a reunião do G20, a Itália anunciou que submeterá suas contas à auditoria do Fundo Monetário Internacional (FMI). A decisão, que confirma o caos econômico do país, apavorou os banqueiros. Há forte risco de calote da dívida italiana, o que pode afundar de vez a combalida Europa.

O agravamento da crise minou a base de apoio de Berlusconi. Na votação do seu “plano de austeridade”, ele perdeu a maioria dos 316 deputados. Seu principal aliado, o líder fascista Umberto Bossi, pediu sua renúncia, seguido por deputados do seu próprio partido, Povo da Liberdade (PL). Berlusconi rotulou os dissidentes de “traidores”, mas ficou sem condições para permanecer no cargo.

Queda de popularidade e protestos de rua

Fora dos círculos do poder, o premiê estava ainda mais desgastado. Pesquisa da semana passada confirma que a popularidade de Berlusconi caiu a seu nível histórico mais baixo, de 22%. Em janeiro, metade dos italianos já defendia sua imediata renúncia. Greves gerais e protestos de rua exigem a sua queda desde o final do ano passado.

Os escândalos sexuais de Berlusconi, de 75 anos, só aumentaram o seu desgaste. Em outubro, um extrato bancário provou que ele gastou 2,7 milhões de euros (R$ 6,5 milhões) com presentes para garotas de programa. A marroquina Karima el-Mahroug, conhecida como Ruby Rubacuore (“rouba corações”), confessou que participou de festas na mansão do ricaço quando menor de idade e que recebeu 7 mil euros. Em maio, ela foi presa por roubo e foi imediatamente libertada após uma ligação do “amigo” poderoso.

“Vou embora deste país de merda”

Berlusconi já sabia que estava com os dias contados. Só durou mais algum tempo para fazer o último trabalho sujo da asquerosa burguesia italiana, com a aprovação do “plano de austeridade”. Em setembro, numa gravação telefônica que vazou, o arrogante premiê afirmou: “Em alguns meses me vou. Vou embora deste país de merda, do qual estou nauseado”.

Se houvesse justiça, ele deveria ir era para a cadeia. Alguns “calunistas” da mídia brasileira, que tanto o bajularam o líder direitista, poderiam lhe fazer visitas. Diogo Mainardi até mora na Itália!

Da internet às ruas e à conta bancária

Por Manuel Castells, no sítio Outras Palavras:

O capital financeiro e seus altos executivos enfrentam um sério problema: as pessoas não gostam deles. Mais que isso, são odiados por muita gente. E a raiva atinge também os políticos, que são vistos como marionetes dos bancos e que não duvidam em protegê-los com o dinheiro dos contribuintes, sem que as instituições financeiras retribuam o favor quando vão bem e o país vai mal. Afinal, argumentam, o dinheiro pertence aos acionistas.

Ninguém acredita nisso, porque nos conselhos de acionistas está tudo bem amarrado. Com uma minoritária participação de controle, alguns poucos acionistas mandam e desmandam. Some-se a isso os investimentos cruzados entre bancos e o sistema se fecha em si mesmo, com escassa utilidade social e máxima captação de fundos em benefício dos banqueiros, com ganhos exorbitantes para eles mesmos, ainda que quebrem suas entidades. E nada de pagar mais impostos. Para isso servem nos paraísos fiscais.

Daí o movimento Occupy Wall Street, iniciado no coração do capitalismo financeiro, ter conseguido tanto apoio popular nos Estados Unidos e no mundo. A ideia foi lançada na internet em julho de 2011 pela revista Adbuster, uma publicação de crítica à publicidade, editada em Vancouver. A proposta de ocupar Wall Street em 17 de setembro, dia da Constituição, para protestar contra o controle da política pelo dinheiro, foi incorporada por diversos grupos em todo o país, mais ou menos organizada na rede e finalmente levada a cabo por cerca de mil manifestantes que acabaram acampando no Zuccotti Park, nas imediações do distrito financeiro novayorquino.

O silêncio da mídia e a ausência de apoio organizado pareceu confinar o movimento ao ostracismo. Suas demandas eram variadas, mas coincidiam na crítica a um sistema financeiro que provocou a crise e que continua exercendo poder de vida e morte sobre a economia e a política. Mas, onde não chegam os meios de comunicação tradicionais, chega a internet, e a iniciativa ganhou apoio dos cidadãos cansados de tudo — mas especialmente dos bancos. E quando a polícia intensificou a repressão, os sindicatos estadunidenses, que estão sofrendo uma campanha de extermínio por parte dos governadores republicanos e das grandes empresas, decidiram se unir ao movimento e ajudar as manifestações. Os hackers também entraram em ação. Anonymous publicou os nomes e senhas pessoais dos policiais responsáveis por ferir os manifestantes.

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg ordenou que os manifestantes desmontassem o acampamento por “razões de higiene” (soa familiar?), mas volto atrás após a massiva mobilização para impedir a desocupação. Em 1º de outubro, os manifestantes marcharam até a ponte do Brooklyn, e a polícia os deixou passar. Era uma armadilha: finalmente, tinham pretexto legal para deter centenas de manifestantes. Mas a brutalidade da polícia oferece aos meios de comunicação uma oportunidade espetacular para filmar tudo — e, pela pela primeira vez, a imprensa, mesmo criticando, cobre amplamente o movimento.

Rompe-se a barreira do silêncio. O movimentos, então, estendeu-se por todo o país. Centenas de cidades, e numerosos bairros e ruas, têm sua própria ocupação, tanto no espaço urbano quanto numa rede que relata a ação cotidiana e se conecta com outras redes que vão tecendo uma geografia virtual e espacial da mudança de mentalidade num país capitalista por excelência: 82% das pessoas no Estado de Nova York e 46% em todo o país apoiam as críticas do movimento Wall Street, frente a 34% que se opõe. O movimento se autoproclama representante de 99% dos cidadãos, em oposição a 1% que detém 20% da riqueza. E começa a ter impacto na opinião política: enquanto 68% da população pede que os ricos paguem mais impostos, 69% pensa que os republicanos favorecem os ricos.

Como o presidente dos EUA, Barack Obama, também aparece como prisioneiro de Wall Street, o efeito eleitoral direto é incerto, a menos que Obama faça uma mudança em relação a isso. Conforme o movimento aumenta em popularidade e em número de ocupações, acentua-se a repressão policial, centenas de pessoas são detidas em todo o país, as acusações policiais endurecem.

Acontecem feitos inéditos: em 22 de outubro, devido a uma ação policial em Nova York, um robusto sargento dos marines, ex-combatente no Afeganistão, repreendeu os policiais e os acusou de desonrar os ideais estadunidenses ao atacar os cidadãos. A polícia não se atreve com ele. O vídeo do incidente foi visto por três milhões de pessoas. Então surge um movimento, Ocupar os Marines, feito pelos próprios fuzileiros navais, que se dispõe a dar apoio tático e liderança aos manifestantes. Em 25 de outubro, a polícia de Oakland, na Califórnia, ataca durante a noite o acampamento em frente à Prefeitura. Uma granada de gás lacrimogêneo fratura o crânio do marine Scott Olsen, participante da ocupação. A prefeita pede desculpas.

Os protestos intensificam-se em todos os EUA. Em Nova York, uma tempestade de neve cobre a região. Alguns dias antes, o prefeito havia cortado toda a calefação em Zuccotti Park por “razões de segurança”. Os acampados aguentam o frio intenso com o apoio dos vizinhos do bairro e de redes de solidariedade.

Após sete semanas, as ocupações se proliferam e se reforçam. Os bancos seguem na mira dos manifestantes. Uma jovem de 22 anos em Washington, Molly Katchpole, reage contra a imposição do Bank of America de cobrar 5 dólares de seus clientes por cada utilização do cartão de débito — medida que os outros bancos iriam imitar. Molly publicou seu protesto na internet e em algumas horas 300 mil pessoas se juntam ao protesto. Os bancos cancelaram a medida, com ampla repercussão da mídia.

Move.Org, com 5 milhões de afiliados, lança uma campanha para que as pessoas retirem seu dinheiro dos grandes bancos e o depositem em cooperativas de crédito e bancos comunitários. Da internet à rua e da rua à conta bancária. Os executivos, que há algumas semanas brindavam com champanha, provocando os manifestantes que passavam em frente às suas janelas em Wall Street, começam a esconder sua identidade em público.

* Tradução de Daniela Frabasile.