quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Um ano que ficou a desejar

Por Genaldo de Melo

Analisando politicamente o ano de 2011 concluímos que foi um período diferente de outros anteriores no Brasil. Considerando a inoperância de alguns atores políticos, inferimos que foi um ano ímpar do ponto de vista do atraso e da incapacidade, e até mesmo da falta de respeito para com os cidadãos brasileiros que cumprem seus papéis dentro da sociedade. Refiro-me especificamente do nosso Congresso Nacional, que não soube e parece que não sabe pautar o Governo, para que o mesmo trabalhe melhor pelo povo. Enquanto o Palácio do Planalto deu um verdadeiro show de competência, ficaram os nobres parlamentares a desejar.
Com poucas e raras exceções, o que vimos foi mais uma vez, e de modo mais intenso, deputados e senadores fracos, incapazes de apresentar proposituras legislativas que de fato melhore a vida do povo e construa o nosso desenvolvimento. Nesse cenário, principalmente fracos foram os parlamentares que se dizem de oposição, pois não conseguiram honrar os votos do povo. O máximo que conseguiram foi projetar imagens falsas de alguns deles em espelhos, talvez comprados a Narciso.
Foi uma verdadeira falta de respeito de parlamentares, que na sua grande maioria vendem ilusões nos períodos que precedem os outubros eleitorais, e depois de eleitos somente conseguem manter seus gabinetes luxuosos, suas mordomias romanas e suas equipes de cabos eleitorais, que vivem para receber altos salários e não conhecem nada da realidade do chão das ruas.
Enquanto isso, o Governo conseguiu pautá-los sem ser pautado, apresentando mais de 80% das proposições debatidas e aprovadas no Congresso. Foram eleitos para o que mesmo? Parece que se elegeram para um laboratório de três anos e meio para aprenderem novas formas e novos métodos de iludir o povo! Somente quem conseguiu pautar o Governo para derrubar ministros, sérios e não sérios, foi o jornalismo da obediência, coordenado pelo Partido da Imprensa Golpista, dirigido por poucas famílias que todo o Brasil conhece.
Esperamos todos que deputados e senadores voltem de suas polpudas férias pensando de fato o Brasil, pois o povo brasileiro já compreendeu porque nos tornamos a sexta economia do mundo (por enquanto para poucos), e precisa de gente no Parlamento para pensar no povo e no Estado Brasileiro. Pois isso aqui é nosso!

Racismo filho do fascismo

A luta para acabar com as repetidas manifestações de racismo e xenofobia, na Europa inteira, vai ser longa

Vito Giannotti

Na Europa, todos os meses, há notícias de um ataque racista contra “extra-comunitários”, isto é, não europeus. Sempre a mesma cena: mortes de imigrantes e a imediata apresentação dos atacantes como loucos, neuróticos, desequilibrados. Em seguida a absolvição dos criminosos e o rápido esquecimento do fato, com silêncio de toda a mídia que apoia o sistema.

Todos lembramos da chacina de quase cem pessoas de meses atrás, cometida por um jovem da Noruega. Ele já foi declarado “psicopata”, isto é, absolvido. Não era nenhum louco especial, só um cara de direita, amigo de amigos de grupos nazistas ou fascistas e todos racistas cheios de ódio de árabes, africanos e eslavos.

No ano passado, o governo do presidente francês Sarkozy mandou “limpar” Paris e a França de imigrantes miseráveis da Romênia, que já viviam no país há anos. Qual o crime? Não são franceses legítimos.

Em dezembro passado, dia 10, na cidade modelo da cultura italiana, Florença, um pacato cidadão matou a tiros de revólver dois imigrantes do Senegal, num mercado público, e deixou dezenas de feridos. Este “pacato” cidadão também pertencia a um grupo racista e planejou detalhadamente a chacina.

Três dias antes, em Turim, uma garota de 16 anos resolveu transar com o namorado. Acabou a virgindade. E daí? Correu para casa para contar para os pais e os irmãos que tinha sido atacada e estuprada por dois “rom”, isto é, por dois imigrantes romenos “que fediam muito”.

Duas horas depois, jovens da bem comportada Turim, armados de picaretas, machados e latas de gasolina, destruíram e incendiaram uma favelinha de 25 barracos de imigrantes perto da casa da moçoila. Essa mesma mocinha, arrependida, uma hora depois declarou na delegacia que ela tinha inventado tudo por medo dos pais descobrirem o pecado que ela fez com o namoradinho. E daí? O acampamento dos imigrantes já estava em chamas e os jovens alegres a comemorar.

No dia 17 de dezembro, em Florença, 20 mil manifestantes prestaram solidariedade aos dois senegaleses assassinados na semana anterior. Foi bom. Mas é pouco para reverter 20 anos de avanço da ideologia de direita neoliberal. A ideia chave desta ideologia é o individualismo. E o racismo é o individualismo expandido à etnia. Eu sou o centro. O problema são os outros. Os diferentes. E os imigrantes, os estrangeiros são muito diferentes. Daí vem o ódio a todos eles. Hitler também dizia que os judeus eram muito diferentes.

A luta para acabar com as repetidas manifestações de racismo e xenofobia, na Europa inteira, vai ser longa. Na Itália, por exemplo, há quase seis milhões de imigrantes que não tem direitos civis. Cerca de 10% da força de trabalho deste país não têm direito de voto. Isso vale mesmo para aqueles que nasceram na Itália, mas tem a mancha de não ser fi lhos de italianos “legítimos”.

Até o presidente da República, o antigo comunista Giorgio Napolitano, no dia da manifestação de Florença, declarou: “Precisamos bloquear a cultura racista. Tivemos tolerância demais com a xenofobia e o racismo”.

O líder do partido de esquerda, Socialismo, Ecologia e Liberdade (SEL), foi taxativo: “Nossa classe dirigente por 15 anos fez racismo de Estado”. É isso mesmo. O momento, para a Itália de hoje, e para a Europa, é de avançar nestas constatações e voltar a levantar as causas desta derrota de esquerda que gerou este racismo. Retomar o combate unitário à cultura da direita neoliberal que imperou nestas últimas décadas. E mostrar que a única alternativa é retomar a construção de uma nova cultura socialista baseada na solidariedade. Ou isso, ou dar razão a Hitler. Enfim, é o velho dilema que colocava Rosa Luxemburgo, cem anos atrás: “Socialismo ou barbárie”.

Vito Giannotti é escritor e Coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação.